Numa quinta, not far, far away… estavam três irmãos porquinhos mealheiros.
O mais velho, como é óbvio, era o mais gordo porque foi ensinado a poupar e a viver com o que lhe era suficiente. Poupar era a ordem do dia ou porque era imposta ou porque não sabia viver de outra forma. O seu nome era Ontem.
O segundo era menos poupado porque queria disfrutar um pouco do que conseguia amealhar (se conseguisse).
Que bom que era apresentar uns belos candidatos a presuntos devidamente depilados, sem quaisquer indícios passíveis de denegrir a sua tão importante aparência e de condicionar o seu bem estar. O seu nome era Hoje.
O terceiro… Bem, o terceiro pesava menos que um coelho a não ser que fosse à balança carregado com as suas indispensáveis jóias. E vá lá que nem a vaidade nem a cobiça pesam na balança. Este irmão não só não tinha poupanças como já tinha os seus presuntos penhorados. Os seus ditos presuntos tinham era cremes, verniz nas unhas e botox, muito botox! Este porquinho mealheiro foi baptizado de Amanhã.
Pois bem. Ontem, Hoje e Amanhã eram três irmãos muitos diferentes.
A mãe deles D. Economia das Massas, não percebia como tal era possível. Até porque do nascimento de uns para outros o espaço de tempo era curto.
O Ontem não tomava banho para poupar na água, comia três vezes por dia (ou não) e nada de comida cara porque essas coisas de nutricção são tretas para queimar dinheiro desnecessariamente.
O Hoje comia à fartazana… Poupar era nos bilhetes de cinema. Porquê gastar dinheiro nisso quando podia ver filmes no tablet e ainda por cima podia passar todo o seu dia sem ter de partilhar espaço e tempo com outros. E que bom que era encomendar algo parecido com comida que chegava sem esforço nenhum a não ser o do pagamento.
Amanhã achava os irmãos ridículos… Para quê comer tanto como eles? Comer é apenas uma tarefa menor em termos de quantidade e maior a nível de qualidade (nem que seja só na aparência) que nos é facilitada pelas inúmeras receitas pré-preparadas, prontinhas a ser consumidas, ricas em ingredientes caríssimos porque são BIO. E porquê gastar tempo a comer se precisava dele para coisas bem mais importantes como a “paticure”, a aquisição dos adornos que eram indispensáveis à sua apresentação diária e para organizar o seu ritual de conforto físico e espiritual.
Pois bem. Certo dia a Dona Economia das Massas teve uma doença horrível que nenhum médico conseguia diagnosticar e teve de ser internada.
Seus filhos depressa a foram visitar.
Ontem foi ter com sua mãe e aconselhou-a a aproveitar a oportunidade para comer uns dias de graça e carregar as baterias dos aparelhos eléctricos móveis sem pagar mais por isso. Mesmo que se sentisse melhor o ideal era ficar por ali a poupar durante uns dias. Ah… E se tivesse oportunidade era de aproveitar também e esconder nos bolsos do roupão as compressas que fossem ficando por ali sem dono.
O Hoje estava muito preocupado porque no hospital, não se percebia bem como, não existia uma televisão para cada um e o serviço de Wi-Fi era de qualidade inferior. Que falta de consideração perante os doentes… Antes de sair iria apresentar uma queixa por escrito e denunciar tudo nos media. Aliás, nem chegou a visitar a mãe porque não tinha acesso à rede naquele piso e não podia correr o risco de perder informação.
Já o Amanhã ficou à porta do hospital. Não conseguiu entrar, eram demasiados germes, bactérias, vírus e pessoal médico sem maquilhagem, com bijuterias e todos calçados com coisas nojentas sem qualquer classe.
Enquanto os políticos, ups, desculpem, os médicos, tentavam descobrir o que se passava com D. Economia o já nosso conhecido Lobo Mau, que nesta história se chama Realidade, tentava destruir a vida dos três porquinhos através da saúde de D. Economia.
Para isso inspirou fortemente com todas as suas forças e soltou ventos fortes que trouxeram a infelicidade de se viver o dia a dia sem se ser capaz de apreciar a vida, como fazia o Ontem.
Não contente, inspirou mais uma vez com ainda mais força e soltou ventos até não poder mais e então veio a infelicidade de nunca estar feliz com o que se tem, como fazia o Hoje.
E pela terceira e última vez, inspirou com toda a força possível e violentamente soltou ventos poderosos que trouxeram a infelicidade de se viver das aparências sem perceber que existe algo no interior, como fazia o Amanhã.
- Economia vacilava cada vez que o Sr. Realidade expirava… e o tempo passava… passava… passou…
- Economia faleceu sem os médicos perceberem ou quererem encontrar um tratamento eficiente.
Os três porquinhos… esses… apesar de hoje estarem em travessas diferentes, acabaram todos da mesma forma: a servirem de alimento para os que realmente têm poder e lhes enfiam a maçã no focinho independentemente de gostarem ou não…
Moral da história: nem ontem, nem hoje, nem amanhã teremos bons ventos de economia.
Que venha o século XXII se ainda existirem porquinhos mealheiros.