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OS “TRÊS PORQUINHOS” DO SÉCULO XXI

Numa quinta, not far, far away… estavam três irmãos porquinhos mealheiros.

O mais velho, como é óbvio, era o mais gordo porque foi ensinado a poupar e a viver com o que lhe era suficiente. Poupar era a ordem do dia ou porque era imposta ou porque não sabia viver de outra forma. O seu nome era Ontem.

O segundo era menos poupado porque queria disfrutar um pouco do que conseguia amealhar (se conseguisse).

Que bom que era apresentar uns belos candidatos a presuntos devidamente depilados, sem quaisquer indícios passíveis de denegrir a sua tão importante aparência e de condicionar o seu bem estar. O seu nome era Hoje.

O terceiro… Bem, o terceiro pesava menos que um coelho a não ser que fosse à balança carregado com as suas indispensáveis jóias. E vá lá que nem a vaidade nem a cobiça pesam na balança. Este irmão não só não tinha poupanças como já tinha os seus presuntos penhorados. Os seus ditos presuntos tinham era cremes, verniz nas unhas e botox, muito botox! Este porquinho mealheiro foi baptizado de Amanhã.

Pois bem. Ontem, Hoje e Amanhã eram três irmãos muitos diferentes.

A mãe deles D. Economia das Massas, não percebia como tal era possível. Até porque do nascimento de uns para outros o espaço de tempo era curto.

O Ontem não tomava banho para poupar na água, comia três vezes por dia (ou não) e nada de comida cara porque essas coisas de nutricção são tretas para queimar dinheiro desnecessariamente.

O Hoje comia à fartazana… Poupar era nos bilhetes de cinema. Porquê gastar dinheiro nisso quando podia ver filmes no tablet e ainda por cima podia passar todo o seu dia sem ter de partilhar espaço e tempo com outros. E que bom que era encomendar algo parecido com comida que chegava sem esforço nenhum a não ser o do pagamento.

Amanhã achava os irmãos ridículos… Para quê comer tanto como eles? Comer é apenas uma tarefa menor em termos de quantidade e maior a nível de qualidade (nem que seja só na aparência) que nos é facilitada pelas inúmeras receitas pré-preparadas, prontinhas a ser consumidas, ricas em ingredientes caríssimos porque são BIO. E porquê gastar tempo a comer se precisava dele para coisas bem mais importantes como a “paticure”, a aquisição dos adornos que eram indispensáveis à sua apresentação diária e para organizar o seu ritual de conforto físico e espiritual.

Pois bem. Certo dia a Dona Economia das Massas teve uma doença horrível que nenhum médico conseguia diagnosticar e teve de ser internada.

Seus filhos depressa a foram visitar.

Ontem foi ter com sua mãe e aconselhou-a a aproveitar a oportunidade para comer uns dias de graça e carregar as baterias dos aparelhos eléctricos móveis sem pagar mais por isso. Mesmo que se sentisse melhor o ideal era ficar por ali a poupar durante uns dias. Ah… E se tivesse oportunidade era de aproveitar também e esconder nos bolsos do roupão as compressas que fossem ficando por ali sem dono.

O Hoje estava muito preocupado porque no hospital, não se percebia bem como, não existia uma televisão para cada um e o serviço de Wi-Fi era de qualidade inferior. Que falta de consideração perante os doentes… Antes de sair iria apresentar uma queixa por escrito e denunciar tudo nos media. Aliás, nem chegou a visitar a mãe porque não tinha acesso à rede naquele piso e não podia correr o risco de perder informação.

Já o Amanhã ficou à porta do hospital. Não conseguiu entrar, eram demasiados germes, bactérias, vírus e pessoal médico sem maquilhagem, com bijuterias e todos calçados com coisas nojentas sem qualquer classe.

Enquanto os políticos, ups, desculpem, os médicos, tentavam descobrir o que se passava com D. Economia o já nosso conhecido Lobo Mau, que nesta história se chama Realidade, tentava destruir a vida dos três porquinhos através da saúde de D. Economia.

Para isso inspirou fortemente com todas as suas forças e soltou ventos fortes que trouxeram a infelicidade de se viver o dia a dia sem se ser capaz de apreciar a vida, como fazia o Ontem.

Não contente, inspirou mais uma vez com ainda mais força e soltou ventos até não poder mais e então veio a infelicidade de nunca estar feliz com o que se tem, como fazia o Hoje.

E pela terceira e última vez, inspirou com toda a força possível e violentamente soltou ventos poderosos que trouxeram a infelicidade de se viver das aparências sem perceber que existe algo no interior, como fazia o Amanhã.

  1. Economia vacilava cada vez que o Sr. Realidade expirava… e o tempo passava… passava… passou…
  2. Economia faleceu sem os médicos perceberem ou quererem encontrar um tratamento eficiente.

Os três porquinhos… esses… apesar de hoje estarem em travessas diferentes, acabaram todos da mesma forma: a servirem de alimento para os que realmente têm poder e lhes enfiam a maçã no focinho independentemente de gostarem ou não…

Moral da história: nem ontem, nem hoje, nem amanhã teremos bons ventos de economia.

Que venha o século XXII se ainda existirem porquinhos mealheiros.

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