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Cidadania e Sociedade

A TRETA DA DEFESA DOS DIREITOS HUMANOS

Todos os cidadãos que prezam princípios e valores, que se regem por normas de ética e moral, consagrados pelas constituições, códigos e leis internacionais, atribuem especial ênfase à defesa dos direitos humanos e a todas as suas consequências, como o respeito pela liberdade de expressão, de opinião e de associação e pela democracia, como regime.

Nesse contexto, obviamente a violação dos direitos do homem e do cidadão, revista a forma que revestir, onde quer que se verifique, é objecto da maior crítica, indignação e revolta, de quem tem princípios e valores democráticos.

Acontece com os indivíduos e com os povos, e deveria acontecer com os seus governos, que emanam de ambos. Mas não acontece.

Quando falamos dos governos e do poder político, falamos de alguém que, em teoria e em tese, se mostra profundamente defensor dos direitos humanos, como é o caso do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa e do Primeiro-ministro, António Costa, indubitavelmente democratas. Contudo, a política parece ter razões que a razão desconhece, ou pelo menos o bom senso, ou o sentido de coerência entre o que se defende e o que se pratica. É o que alguns, desavergonhadamente, embora dizendo-se realistas, referem que é a “realpolitik”, a “política real”. O que tem que ser, face às circunstâncias, nem que seja necessário atropelar o que se defende e o que se acredita. O que, obviamente, não deixa de ser uma posição miserável e de condenar sem a mínima piedade.

A incongruência lapidar do que acaba de ser dito aconteceu ainda esta semana. Em Portugal, mas acontece em toda a Europa e em todo o mundo, em que os negócios e o capital invalidam qualquer princípio ou valor ético ou moral. Porque o dinheiro é que comanda a vida, como bem sublinhava Marx há dois séculos.

O Presidente chinês, Xi Jinping, esteve de visita a Portugal durante dois dias, sendo recebido principescamente pelas mais altas instâncias do Estado e visitando também a Assembleia da República, símbolo máximo da soberania nacional.

Pois bem: a China é um país ditatorial, em que o desrespeito pelos direitos humanos e a repressão são o pão nosso de cada dia (basta recordar Tiannamen…). No entanto, os mais altos poderes portugueses andaram de cócoras perante o “Dono Disto Tudo”, porque os chineses estão em força na economia portuguesa, em sectores estratégicos como a energia, a saúde, a banca, os seguros, a água, entre outros, em empresas que compraram no consulado do executivo do PSD/CDS, durante o consulado da tróica, em que foi vendido ao desbarato tudo o que havia para vender, privatizando tudo o que era rentável, sem cuidar minimamente da defesa dos interesses nacionais.

Por exemplo, o Presidente da República fez no final um balanço “muito positivo” da estada do ditador chinês em Portugal, em que foram assinados 17 acordos bilaterais, envolvendo as áreas financeiras e empresariais.

Marcelo, que tanto gosta de falar e apontar o dedo ao que não considera correcto, não abriu o bico, na velha máxima de forte com os fracos (por exemplo, o governo de António Costa, em algumas ocasiões) mas fraco com os fortes, como o colosso chinês, que aqui investiu cerca de 9 mil milhões de euros entre 2000 e 2017.

Apenas o Bloco de Esquerda (e o deputado do PAN) se recusou a participar nas cerimónias protocolares ao lado de Xi Jinping. Porque não é suficientemente hipócrita para aplaudir ou participar em banquetes com “o representante de um regime político que despreza o direito de greve, o direito de opinião e de liberdade de imprensa”. Pelo menos, alguém tem dignidade e coerência neste país.

Temos de convir, seriamente, que a economia não pode ser motivo para passar uma esponja sobre princípios e valores que todos valorizamos no Ocidente mas que a China despreza, desrespeita e calca, como os direitos humanos, a liberdade e a democracia.

Ou, então, se concordam com a posição chinesa face a esse dossiê, que os nossos políticos, de uma vez por todas se desmascarem e reconheçam que, para eles, aqui ou na China, os direitos humanos são uma treta, uma mera expressão inútil num dicionário supérfluo.

Ou seja, uma chinesice!…

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