Dezembro é o meu mês preferido!
Desde sempre.
Trinta e um dias repletos de sensações, emoções, sabores, odores, cores vibrantes, decisões importantes, chuva, frio e em cada manta um arrepio.
Caem as últimas folhas ainda resistentes. Dão cor a um chão ensopado por fortes aguaceiros cada vez mais frequentes.
A brisa torna-se mais sólida e vigorosa. Tenta a todo o custo embrenhar-se por entre as roupas quentes que insistimos afagar.
Assim seguimos neste abraço constante e distraído, na esperança de afastar para longe, o desconforto dos dias que cedo se tornam escuros e nos aceleram o passo.
Temos pressa de chegar a casa onde sabemos, nos aguarda uma chávena de chocolate fervente que nos aquecerá por dentro o corpo e por fora o vaporoso sopro brando de um sorriso rasgado.
Depositamo-nos no sofá, habilmente munidos de um cobertor que nos envolve as pernas e aquele livro que há muito queríamos ler no embalo harmonioso das gotinhas que se lançam escorregadias pelos vidros da sala.
É tempo de família. De recordar com saudade momentos de infância vividos na esperança de receber o tão ambicionado brinquedo descrito numa carta enviada para muito longe a um velhinho de barba.
Fecho os olhos e ao abri-los estou debaixo da árvore de Natal. O piscar das luzes refletido no meu rosto transporta-me para o mundo mágico da imaginação. Observo inerte a azáfama dos duendes naquela fábrica. Sim, ainda hoje.
Na mesma medida, cresceram em mim, corpo e inocência. Acredito nele, profundamente. Sei que a viagem é longa mas valerá muito a pena. As chaminés rareiam mas nunca a crença. Enquanto houver sapatinhos novos ou velhos, de verniz cintilantes, usados ou rasgados, por caminhos andantes, os olhos brilharão.
Reluz também o cheiro àquela bela iguaria traduzida em refeição caseira que sem fome se consome. Naquela mesa, impecavelmente decorada com a toalha debruada a renda pelas mãos da avó quando ainda o não era, exibem-se os dotes adquiridos nessa mesma mocidade de outros tempos.
Esfarrapam-se, então, secretamente, todas essas delícias.
É imperativo provar uma migalha de cada uma daquelas travessas!
É urgente reter na memória o paladar das conversas carregadas de novidades trazidas de longe pelos tios que nos visitam. Trazem afetos com sotaques longínquos. Daqueles que se apoderam de quem os ouve sem pedir licença e dos quais só nos livramos no adeus, de coração apertado, após as festas.
O final de dezembro traz consigo o início de um novo ano.
Trezentos e sessenta e cinco dias para dar lugar ao sonho e concretizar os que foram adiados, alguns, por vezes, durante décadas.
Desta vez é que vai ser!
Quando soarem as doze badaladas iremos cair suavemente em janeiro, amparados pela vontade de um recomeço e pela motivação de finalmente repetirmos tudo o que de bom e de mau aconteceu, porque afinal fomos tão felizes que queremos voltar a sê-lo.
Não o sabemos, mas a verdade é que o novo ano não será diferente do anterior. Este revelou-se o melhor de todos e assim continuará a ser por muitos e longos infindáveis momentos!