Home>Cidadania e Sociedade>OS AGRESSORES PODEM SER PAIS?
Cidadania e Sociedade

OS AGRESSORES PODEM SER PAIS?

Uma mulher. Grávida. E de 9 meses. Um progenitor. Agressor. E que vai querer ser pai. É o mesmo que colocar frente a frente o Tribunal Criminal e o Tribunal de Família e Menores de Vila Franca de Xira. Um Tribunal vai condenar. O outro vai procurar atribuir os direitos de paternidade ao agressor. E o Superior Interesse dos Menores, onde fica?

Foi uma das imagens que mais me chocou nos últimos dias: uma mulher grávida de 9 meses a ser violentamente agredida pelo companheiro, presumível pai do bebé. Um energúmeno, portanto, que em tronco nu pontapeava e dava murros na mulher, indefesa e já caída no chão. Aconteceu em Vila Franca de Xira, em plena via pública.

Valeu a intervenção de um agente da PSP que estava de folga nesse dia, à civil, e que conseguiu imobilizar o agressor. Foi uma intervenção exemplar e que salvou a vida àquela mãe e ao bebé, que entretanto já nasceu. Não fosse aquele polícia agir, mesmo estando de folga, num espírito de missão e cidadania, o desfecho deste episódio poderia ser trágico.

O indivíduo foi detido, presente ao Juíz de Instrução Criminal, mas ficou em liberdade ainda que com a proibição de se aproximar das vítimas, tanto da mulher como do bebé. Em liberdade vai aguardar pela acusação do Ministério Público que certamente o vai acusar de violência doméstica e seguir-se-á mais tarde o julgamento. Partindo do princípio que o processo será simples e rápido, podemos contar com pelo menos um ano na justiça. Tempo para o bebé merecer também a atenção do Tribunal de Família e Menores que não vai querer que a criança cresça sem pai, porque nestes casos a posição dos Tribunais é que todas as crianças têm direito a ter mãe e pai.

O nosso sistema judicial é quase sempre demasiado formal. Às vezes fica cego e não procura cruzar a informação que corre em processos e em Tribunais distintos. E o que se assiste em muitos casos é o Tribunal de Família e Menores separar as águas, isto é, não querer olhar para o que se passa no processo crime e regular as responsabilidades parentais como se o pai não fosse um agressor. Há casos em que as próprias crianças, já mais crescidas, assistiram a episódios de agressão do pai à mãe, mas que depois, manda o Tribunal de Família e Menores, são obrigadas a ter que conviver com o pai como se nada fosse. Só porque é o progenitor, só porque a justiça de menores não consegue ver mais além e perceber que um progenitor nem sempre pode ser pai ou mãe.

Neste caso de Vila Franca de Xira, mantendo-se esta visão generalizada dos Tribunais de Família, vão ser reconhecidos a este agressor direitos como pai. Vai ter direito a fins-de-semana ou, no mínimo, a visitas supervisionadas. Vai ter direitos sobre aquela criança que ainda não tinha saído da barriga da mãe e já estava a sofrer a violência física do progenitor.

Pode ser que até lá os Tribunais de Família e Menores do nosso país percebam ou recebam orientações superiores no sentido de cruzar a informação que, nestes casos de violência doméstica, corre nos processos crime. E perceber de uma vez por todas que um pai que bate na mãe, muitas vezes até à frente dos próprios filhos, não passa de um progenitor ao qual lhe devem ser negados quaisquer direitos como pai. Só assim os Tribunais darão prevalência ao Superior Interesse dos Menores.

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.