A poluição é o resultado prejudicial para a Natureza de atividades antropogénicas, ou seja, de empreendimentos e transformações que o Homem nela opera. Uma simples lógica aristotélica nos permite concluir que, sendo nós parte da Natureza, qualquer prejuízo para a mesma representa um prejuízo para Humanidade. Simples.
Em grosso modo, podemos falar de poluição do ar, das águas, dos solos, sonora, visual, térmica e nuclear. Hoje gostaria de abordar apenas a temática da poluição do ar e irei excluir as visões alucinadas daqueles que crêem que a poluição ambiental não tem efeitos nefastos e o aquecimento global não existe.
As atividades humanas que mais causam poluição do ar são a combustão de combustíveis fósseis (em veículos motorizados, sistemas de aquecimento, cozinhas), instalações industriais (fábricas, refinarias), atividades agrícolas e armazenamento e incineração de resíduos urbanos.
Estas atividades produzem diversos poluentes gasosos como o ozono, o dióxido de azoto, dióxido de enxofre, monóxido de carbono e o material particulado, que é uma mistura de substâncias suspensas no ar, orgânicas e inorgânicas, com a capacidade de penetrar até aos pulmões e, caso tenham um diâmetro inferior a 2,5 micrómetros, atravessar a barreira pulmonar e entrar na circulação sanguínea. As consequências para a saúde acontecem na exposição pontual ou prolongada a estes compostos.
A primeira conferência global de “Poluição do ar e Saúde”, organizada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), aconteceu a 1 de novembro de 2018, em Genebra. Passou em claro nas notícias, mas aqui fica um sumário do que não podemos ignorar:
– 9 em cada 10 pessoas respira ar poluído;
– 24% de todos os acidentes vasculares cerebrais (AVC) são atribuíveis à poluição do ar;
– 25% de todas as mortes causadas por doença cardíaca são atribuíveis à poluição do ar;
– 43% de todas as mortes causadas por doença pulmonar, incluindo cancro do pulmão, são causadas pela poluição do ar;
– 29% de todas as mortes causadas por cancro do pulmão são causadas pela poluição do ar;
– 7,6% de todas as mortes, em 2016, foram causadas pela poluição do ar.
Conhecia estes números? Outros estudos mostram uma possível relação entre a exposição à poluição do ar e maior risco de fraturas ósseas, pior qualidade do esperma e defeitos congénitos.
Caros Srs. Políticos e Reguladores, acreditais vós neste fenómeno cancerígeno de uma sociedade que cresce até que se mata ou sereis apenas míopes, não vendo para além de um par de décadas?
Não vamos cometer o erro de pensar que apenas os países industrializados ou as zonas urbanas estão expostas a estes riscos. De acordo com a OMS, “A poluição do ar nas cidades e nas zonas rurais causou 4,2 milhões de mortes prematuras em todo o mundo em 2016; esta mortalidade é devida à exposição a pequenas partículas de 2,5 ou menos micrómetros de diâmetro, que causam doença cardiovascular, respiratória e cancro”. É um problema global.
E por falar em partículas. O amianto teve no passado inúmeras utilizações mas o seu uso foi proibido em 2005 devido à associação entre a inalação das suas fibras e a ocorrência de diversas doenças graves. Em Portugal foram identificados mais de 4000 edifícios públicos com amianto, um número criticado pela Quercus pelo caráter superficial das técnicas utilizadas neste levantamento.
Em 2016 António Costa assegurou que até ao final do ano letivo de 2016/2017 seriam intervencionadas as escolas com os níveis mais graves de amianto. No mesmo ano, o ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, também assegurou que, até ao final de 2018, seria removido o amianto de 252 edifícios considerados prioritários. Pois que chegamos ao fim de 2018 e o que é que já foi feito? Apenas uns tímidos 90 edifícios intervencionados e poucos deles considerados prioritários. E quantas escolas ao certo? Ninguém sabe com rigor. Muito mal Srs. Ministros. Amianto nas escolas? Será isto pouco importante para suas Excelências?…
Hipocrisias políticas à parte, seguem-se cinco medidas que podemos adotar no nosso dia-a-dia e que diminuem a nossa exposição aos poluentes ambientais inaláveis:
– Filtre o ar de sua casa: principalmente se vive no centro da cidade, investir num purificador de ar irá permitir-lhe respirar um ar mais puro enquanto estiver em casa.
– Não fume: o fumo do tabaco é uma fonte inequívoca de tóxicos para si e quem o rodeia.
– Diminua o uso de lareiras abertas: a utilização destas lareiras, para além de pouco eficiente, liberta partículas inaláveis que prejudicam a saúde. Melhorar o isolamento térmico das casas, usar recuperadores de calor ou salamandras de “pellets” são algumas opções.
– Não faça exercício na rua durante as horas de ponta: a prática de exercício físico é muito importante, mas se gosta de correr ou caminhar na rua opte por fazê-lo fora da hora de ponta ou em locais verdes. Na impossibilidade de o fazer, opte por correr nas ruas por onde não passam tantos carros. De acordo com Prashant Kumar, diretor do Centro de Investigação para o Ar Limpo, da Universidade de Surrey, “Dependendo do tipo de poluentes, a 50 ou 100 metros de distância da zona mais congestionada pelo tráfego automóvel, a concentração dos poluentes baixa pelo menos para metade”.
– Diminua o seu risco de doença: faça exames médicos regulares e tenha uma alimentação rica em alimentos antioxidantes que combatem os efeitos nefastos destes poluentes.
Por fim, procure reduzir a sua pegada ambiental pois todos somos importantes nesta missão. Não é só um saco de plástico: se 10 milhões de pessoas pensarem dessa forma, já serão 10 milhões e sacos de plástico que poluem, ou não, a nossa casa, a Natureza.