Queria um presente.
Já pedi um ao Pai Natal.
Quer dizer, na realidade, foi bem mais que um.
Sonhar não custa…
Desejar o que mais queremos ou o que muito nos faz falta é a única forma de respirar.
A única maneira de nos sentirmos vivos é não ter o que verdadeiramente precisamos para que, no esforço de criar a oportunidade certa para o alcançar, possamos partir à aventura.
Queria tanto um presente de Natal.
Se eu te pedir muito, achas que podes dar-mo?
Eu sei que se calhar não te apetece vestir um fato encarnado, calçar umas botas pretas e colocar um gorro com um pompom branco e felpudo na cabeça, mas eu gostava…
Não precisavas de subir ao telhado.
Provavelmente está molhado e acabarias por escorregar e cair.
Esta é a altura do ano em que ninguém devia ter pouca sorte, se é que ela existe, ou ficar triste.
E então, o presente vem ou não vem?
Queria uma caixinha de cartão colorida, muito colorida por fora, e vazia, totalmente desprovida por dentro.
Podias embrulhá-la numa folha branca de papel.
Escrevias um “de” e um “para” com uma caligrafia bem bonita: a tua!
Aplicavas-lhe uma fitinha de uma cor qualquer.
Não faria a mínima diferença porque gosto de todas.
Não te preocupes e não te esqueças.
E depois…
Depois passavas à minha porta.
Deixavas o embrulho direitinho no tapete da entrada, tocavas à campainha e corrias o mais depressa que conseguisses pela rua abaixo para eu não te ver e assim não perceber quem eras.
Ainda que não fizesse a mínima ideia ia adorar que fosses tu, apesar de não o saber.
Assim se daria início à magia desta época.
Pegaria então no embrulho pequenino com as duas mãos para não o deixar cair.
Levá-lo-ia comigo até junto da árvore onde luzes coloridas iluminariam um espaço às escuras.
Ao sabor do som suave, ouvido baixinho e vindo do fundo da sala, pousá-lo-ia junto à lareira.
Por ali ficaria, pacientemente à espera para no dia certo, à hora combinada, poder ser aberto, descoberto e desvendado nesse momento tão aguardado.
Por entre aromas quentes e doces, muito doces e deliciosamente saborosos, daqueles que se desfazem na boca e aquecem o coração, surgiria o teu sorriso no meu pensamento e ao abrir a caixinha, lá dentro, tu!