Enquanto criança, não existe entusiasmo maior do que a chegada do dia de Natal… A minha primeira memória de tal sentimento vem do ano de 1998. Era eu um jovem de cinco anos, já com olhos míopes, mas possuindo uma visão de alma perfeita. Lembro-me de ter de fazer um “trabalho” no infantário que consistia em escrever uma carta ao Pai Natal. Explicaram-me que, por ser um menino bem-comportado, seria recompensado com presentes, oferecidos neste dia especial chamado de Natal. Bem, lá coloquei o meu chapéu pensador e pensei em tudo o que poderia querer para me divertir. Que tal uma bola de futebol? Ou então um jogo novo para a minha Sega Saturn? Se calhar talvez um Action Man? Sem filtros, procurei escrever tudo o que podia para que este “senhor” não se esquecesse de nada. Em casa, mostraram-me fotos desta pessoa que estava agora a conhecer (aparentemente já tinha conhecido, mas a minha memória estava ainda em stand-by). Olhei, e pensei na minha inocência – Ahhh, este é aquele senhor que canta as músicas na televisão, normalmente não se veste assim! – Acho que não me lembro de ouvir tantos risos dos meus pais, ainda mais do que as vezes que dizia Cábio, ou dizia Caca e Garco… percebi dias mais tarde que o Sr. Cantigas e o Pai Natal eram duas pessoas diferentes, até porque o Sr. Cantigas nunca dizia Ho-ho-ho antes de cada canção… O tempo foi passando e ia notando que o Mundo parecia diferente. As ruas tinham cores diferentes, a casa dos meus avós tinha uma árvore enorme que parecia ser o ponto de encontro de todos os animais, enfim, tudo parecia mágico. Ansiava tanto para que o tal dia chegasse, o dia em que teria as coisas todas que pedi. Chegamos à tarde do dia 24 de dezembro de 1998. Todos estávamos reunidos à espera da aparição dos presentes. Muito alto, diziam-me – Pedro, tens de chamar muito alto por ele, senão ele não ouve! Vá, ele está quase a chegar! – Acho que nunca dei um berro tão alto em toda a minha vida… olho pela janela e vejo uma luz diferente. Seria agora que iria conhecer o tal senhor das barbas farfalhudas e dos presentes para todos os meninos bem-comportados? Foi sim! Com toda a alegria, abracei uma pessoa que não conhecia e que trazia um saco de serrapilheira cheio de prendas que assumi que eram todas para mim. Curioso, o meu pai não estava na sala nesta altura… Ah, de certeza que foi ajudar o Pai Natal a trazer as prendas, típico do meu pai a ajudar as pessoas… Para vos ser sincero, não me recordo do que abri. Talvez tenha recebido algumas das prendas que pedi, tenho uma vaga ideia. O que me lembro bem são os momentos que passei depois. O jantar, as brincadeiras com os meus tios, as conversas de futebol com o meu avô, ver a minha família a jogar às cartas. São as memórias que ficam para sempre desse meu primeiro dia. É curioso… Como criança, de certeza que, na superfície, brinquei com tudo o que recebi, vesti a roupa que não pedi e comi todos os Ferrero Rocher que recebi. Tudo o que ficou em mim, foi uma luz diferente. Sempre que fecho os olhos e recordo-me desse dia, penso em todos os sorrisos que via, mas não entendia na altura. Todos os momentos de euforia familiar só porque eu estava feliz. Isso foi o que a criança guardou e o adulto viu… Não sei se esse é o significado do Natal, mas no meu Mundo, é o único que tem sentido. Ah, o Pedro de cinco anos queria agradecer ao Pai Natal por manter a família junta e feliz todos estes anos. Sim, sei que venho com vinte anos de atraso, contudo, a luz que recebi nesse dia ficou aqui guardada até hoje…
Feliz Natal!