
Por vezes, em arqueologia há descobertas que são (redescobertas) fazendo renascer mistérios e perguntas cujas respostas não são fáceis de obter. E a descoberta que vos trago esta semana é um desses casos.
O Dr. Małgorzata Kot encontra-se a desenvolver um projeto, cujo objetivo é analisar artefatos e ossadas descobertos por arqueólogos há várias décadas durante escavações realizadas nas cavernas situadas no Vale de Sąspowska (um dos vales do Planalto de Cracóvia Czestochowa na Polónia). A maioria dos achados encontravam-se em caixas que foram armazenadas quase imediatamente após as escavações, sendo que a maioria dos achados não sofreram qualquer tipo de estudo ou análise. Foi durante esta demanda pelos antigos achados (reachados) que os investigadores se depararam com o enterramento incomum de uma criança.
A criança terá sido enterrada numa das cavernas no Vale de Saspowska na segunda metade do séc. XVIII ou na viragem para o séc. XIX numa sepultura rasa.
O que surpreendeu os investigadores neste caso foi a criança ter sido enterrada com o crânio de um pássaro (Tentilhão-comum) dentro da boca sendo que outro crânio da mesma espécie de ave foi encontrado ao lado da bochecha do infante.
“Este sepultamento é uma grande surpresa para nós. Esta prática não é conhecida entre os etnólogos aos quais pedimos opiniões. Permanece um mistério, o porquê de a criança ter sido enterrada na caverna desta maneira, e não num cemitério na vila mais próxima” – diz o Dr. Kot.
As análises de radiocarbono permitiram aos investigadores descobrir a idade da criança, que estaria com 10 anos aquando do seu falecimento. Já as pesquisas antropológicas mostram que a criança provavelmente estava desnutrida. Os pesquisadores planeiam agora realizar mais análises especializadas, incluindo testes de DNA e isótopos, que ajudarão a coletar mais informações sobre o falecido (como por exemplo o género).
Mas para além da dificuldade que os arqueólogos estão a ter em compreender as peculiaridades deste enterramento, os investigadores também não sabem onde se encontra o crânio da criança que foi levada para ser estudado pelos antropólogos em Wroclaw logo depois das escavações serem concluídas há 50 anos. Hoje, o local do seu armazenamento é desconhecido.
Investigadores voltaram-se então para os crânios de aves, mas uma nova análise não mostrou dados que pudessem pelo menos explicar o porquê de os tentilhões acompanharem a criança. Sabe-se apenas que eram de aves adultas.
As cavernas nas quais a sepultura foi encontrada mostram atividade humana (incluindo enterramentos) pelo menos desde a Pré-história até à Idade Média. No entanto, no fim do séc. XIX e inícios do séc. XX as cavernas da região montanhosa de Cracóvia-Czestochowa sofreram fortes danos em grande escala a nível arqueológico, quando as lamas (sedimentos do fundo das cavernas) começaram a ser extraídas e usadas como fertilizante. No período entre as guerras, os cientistas alertaram as autoridades para o facto de artefatos inestimáveis estarem a ser removidos e destruídos juntamente com os solos. Portanto, a exploração industrial das cavernas parou.
“Infelizmente não sabemos quantos artefatos valiosos e ossos que nos poderiam contar sobre o passado do homem foram perdidos” diz Dr. Kot.
A verdade é que apesar da interdisciplinaridade na investigação deste achado, os investigadores não conseguem explicar o porquê desta criança ter sido enterrada sozinha e com crânios de tentilhões nas cavernas. O espaço de tempo entre a descoberta e a análise e o estudo do enterramento (sendo que pelo processo se perdeu o crânio da criança) também não ajuda na procura de respostas. Mas para já (e como sempre) as investigações à volta da “criança dos pássaros” vai continuar e talvez mais para a frente vos possa trazer mais respostas para este mistério.
Por agora, desejo a tod@s um Feliz Natal e um Próspero Ano Novo.