Leituras: 1ª: Ne 8,2-4a.5-6.8-10. Salmo 19/18B, 8.9.10.15. R/ As vossas palavras, Senhor, são espírito e vida. 2ª: 1 Cor 12,12-30. Evº: Lc 1,1-4; 4,14-21. III S. Saltério
Ontem, no Panamá, a festa foi sobretudo portuguesa, ao se confirmar que Lisboa irá acolher a próxima Jornada Mundial da Juventude, em 2022. Os encontros internacionais da Igreja são um hino à diversidade de povos, rostos, bandeiras… ver 200 mil pessoas provenientes de mais de 150 países, cada uma com a sua cultura e língua, juntas, sem muros nem barreiras que impeçam o encontro e a convivência pacífica, é uma aventura emocionante.
São Paulo compara toda esta gente, a Igreja, a um corpo: assim como «todos os membros do corpo, apesar de numerosos, constituem um só corpo», assim também a Igreja é constituída por muitas pessoas com dons diversos mas sem deixar de ser “una” pois «a todos nos foi dado a beber um só Espírito».
E não só formamos um só corpo como tantas vezes os membros do corpo que parecem mais fracos são os mais necessários. Quantas vezes ouço no hospital: “padre, as pernas estão bem, o coração é que não ajuda”. Do mesmo modo, na igreja, não há umas pessoas que sejam mais necessárias que outras, não há superiores nem inferiores. Há irmãos e irmãs. Há amigos de Deus!
Recordo-me muitas vezes do Júlio, um jovem, que perdeu uma perna numa luta entre grupos de artes marciais em Timor-Leste. Ele arranjou uma prótese e passou a trabalhar na catedral de Baucau. Cortava a erva e limpava o adro da igreja, fazia a segurança da casa diocesana, ligava o gerador da igreja quando era preciso, fazia todo o tipo de biscates e recados. Não é bispo, nem padre, nem sequer membro do coro da catedral. Provavelmente ninguém se lembra dele, no entanto, toda a gente precisa dele.
Quem presta os serviços mais humildes na Igreja ou quem no íntimo do seu coração reza pelo bem e salvação de todos, num serviço escondido mas fundamental, é tão necessário como aquele que preside à comunidade. Pelo menos esse era o sonho de Paulo.
Ele conhecia bem a organização do império romano e a hierarquia judaica de normas. Para as comunidades cristãs, Paulo não deseja administradores profissionais, mas amigos de Deus, gente que escuta a Palavra do Senhor e procura viver em comunhão com Ele e uns com os outros.
Na Igreja a Palavra é proclamada; na comunhão da Igreja a Palavra é vivida. A Igreja é um carisma, um “milagre de amor”, como diz Xabier Pikaza, onde os serviços eclesiais e os ministérios são necessários mas não criam distinção entre maiores ou menores.
Mas se os “chefes das sinagogas” do nosso tempo insistirem nesta divisão clerical, que continua a ferir de morte o corpo chagado de Cristo, eu escolho, como Francisco de Assis, ser menor, e deixar Pilatos e Herodes a falarem sozinhos.