José Pedro Barbosa
Calma, calma! Percebo que possam pensar que enlouqueci de vez, é uma conclusão verosímil. No entanto, talvez não seja assim tão maluco como as minhas palavras o fazem parecer.
O título desta crónica, no seu sentido literal, implica que, na minha opinião, o cego que não quer ver é “melhor”. Obviamente que o Mundo está repleto de paisagens belas, de monumentos imponentes e cheio de beleza no seu estado puro. Quem seria o anormal que não gostaria de saborear isso?
Não disputo isso. Aliás, o mundo físico está cheio de coisas que merecem ser vistas. O problema é o resto poluído e sem conteúdo. Todos os dias “vemos” coisas que não queremos. Ai… por vezes, seria tão recompensador sermos “cegos” da alma.
Ter a liberdade de ver sem sermos julgados, de ver o mundo de todos os modos (quando, como, onde, etc.), de ver por ver e não por obrigação. São raras as vezes que não temos de navegar neblinas de nada para vislumbrar uma réstia de tudo. Não era bom ser sempre assim?
Compreendam que quem vos escreve é uma pessoa míope, por isso, de coisas desfocadas e pouco claras entendo eu… para as clarificar, preciso de ajuda. Ajuda essa que tive há alguns meses atrás…
Um senhor muito conhecido, que partilhou de bom grado o seu primeiro nome com a minha pessoa, escreveu um livro que se intitulava “Ensaio sobre a Cegueira”. Admito que com 17 anos, as primeiras dez páginas foram o suficiente para fazer com que ligasse a minha PlayStation2. Mas a vida é tramada.
Anos mais tarde, lembrei-me de reler esta obra-de-arte que me passou completamente ao lado enquanto jovem. Foi uma experiência completamente diferente. Senti que já compreendia 10% do que lá estava escrito, o que já é um acréscimo de 9,9% na Escala de Compreensão Barbosa. Ao ler, houve uma frase que trouxe iluminação na minha forma de ver o Mundo. Dizia assim, a frase escrita por Saramago: “Alguns irão odiar-te por veres, não creias que a cegueira nos tornou melhores, Também não nos tornou piores.”
A partir daí, fez-se luz… muita gente vai duvidar de ti por seres diferente, por criticares o mundo, por veres o que os outros não veem, por pensares por ti e não seres só uma máquina de absorver informação e de rebobinar opiniões alheias. Num mundo repleto de cegos, ver é uma traição. Por isso é que o “melhor” cego é aquele que não quer ver… aquele que não quer ver o estado em que os seus contemporâneos vivem, aqueles que se recusam a vislumbrar uma humanidade despida de pensamento próprio… Esse cego, escolhe abri os olhos para ver o que importa e não o que lhe obrigam…
Peço desculpa pela minha cegueira José, cheguei tarde, mas ainda cheguei a tempo de ver!