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A CORAGEM DE VIVER

José Castro

Mais de dezoito milhões de casos todos os anos. Cerca dez milhões de mortes por ano no mundo. Um em cada oito homens e uma em cada onze mulheres acabarão por morrer, segundo a Agência Internacional para a Investigação do Cancro. Estamos obviamente a falar do cancro. Curiosamente, o cancro não está maioritariamente relacionado com causas genéticas, mas sim com o ambiente e hábitos poucos saudáveis. Desde alimentação inadequada, ausência de atividade física, exposição solar inapropriada, tabaco, assim como alegadas emoções negativas persistentes poderão ser fatores de risco. Cada um é pois o único responsável pelo seu bem-estar físico, mental, social e espiritual, que em conjunto definem o que é a Saúde segundo a Organização Mundial de Saúde. Mas hoje não vou esmiuçar os comportamentos preventivos que uma grande parte dos seres humanos teima em não adotar, fruto da “aceitação” da premissa (que falta validar!) que a vida são dois dias, que vão ter de morrer de alguma coisa e que depois tudo acaba! Desconhecem pois uma outra “realidade” para além da vida física que provavelmente tornaria o conceito de “existir” bem mais profundo.

Sabemos que “aceitar” uma doença que muitas vezes é quase uma sentença de morte é algo complexo para o ser humano, tal como evidenciou Elisabeth Kübler-Ross na sua obra. A partir do acompanhamento de centenas de doentes oncológicos e em fase terminal observou um padrão específico de reações psicológicas desses pacientes e que se pode representar nestas cinco fases:

  • negação e isolamento,
  • raiva,
  • negociação,
  • depressão,
  • aceitação

Obviamente que este não é, nem pretende ser, um modelo sequencial e unidirecional (como por vezes foi interpretado), pois muitas vezes o paciente nem sequer percorre as etapas todas, estacionando em alguma delas, outras vezes coexiste em etapas distintas e noutras o retrocesso é uma possibilidade, etc. Afinal cada Ser humano tem a sua forma única de Ser, de Sentir, de Viver…,aquilo que é, é o que o distingue dos demais seres! Mesmo assim sendo, permite-nos refletir sobre estas etapas perante situações de forte impacto emocional, procurando ser resiliente e apesar das condições adversas continuar em frente!

Conheço e conheci familiares, amigos quer reais como virtuais com cancro. Uns seguindo os tratamentos habituais de quimio e radioerapia, outros que acrescentavam a tudo isso práticas complementares, como imposição de mãos (passe magnético, reiki), macrobiótica, meditação, estudo holístico do ser humano, Espiritualismo, Espiritismo, etc. Com uns falei presencialmente, com outros à distância, uns como amigo outros como Coach. Alguns ainda continuam por cá na sua “luta”, outros, embora contrariando o esperado, continuaram largos anos, mas já “partiram” para um outro espaço/tempo, outros ainda em situações tão rápidas, que nem um mês passou desde a deteção do cancro à sua partida! Uns eram crianças, outros jovens adultos, outros adultos e outros ainda mais idosos!

Hoje quero homenagear todos aqueles que foram ou são portadores desta doença, em especial aqueles que apesar da adversidade, do sofrimento e da dor, de alguma forma me transmitiram a sua força, a sua luta, a sua esperança, a sua paz, a sua alegria ao atingir inúmeros sonhos (no aspeto profissional, académico ou familiar e estarem gratos por isso).

Alguns deles com a plena aceitação da sua condição, obviamente tristes mas sem revolta, e a perfeita consciência (dado o estado avançado não chegaram a ter intervenções cirúrgicas) que o fim neste “plano” estava próximo. Recordo o olhar, os silêncios que diziam tudo, por vezes a lágrima a cair, do próprio ou do familiar próximo. Recordo quando a palavra morte era utilizada, para uns associada à sua “crença” trazendo-lhes tranquilidade, outros, relutantes mas com interesse em saber mais e para outros, ateus convictos com as suas eternas dúvidas, por telefone e em longas chamadas, perguntando-me como se sofreria depois da morte.

Que jamais alguém pense saber o que se passa no outro Ser, que jamais alguém ouse julgar o outro, que jamais alguém impinja “respostas prontas” ou “modelos de vida” ao outro! O outro como eu é “algo” que se constrói com as suas experiencias, com suas tendências, com o seu mapa mental! Que possamos sim promover a reflexão, descortinar (novas) formas de” ser” e de “pensar” cada vez mais profundas, promotoras de uma maior compaixão por nós próprios e restantes seres. Mas, que acima de tudo isso, exista a plena e total liberdade de escolha de caminhos, de rumos e que preferencialmente cada um construa o seu caminho solitário (mas não sozinho) único e irrepetível que lhe traga um superior sentido e propósito de existir.

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