Clara Morais
“Luxo, glamour e consciência”
O novo luxo é a consciência da sustentabilidade e da identidade de um pais ou comunidade.
Estilistas como Stella McCartney, Eileen Fishere e Ralph Lauren já reformularam as suas práticas usando tecidos organicos ou reciclados. Um dos objetivos é reduzir o desperdício de água, energia e produtos químicos.
Stella McCartney foi a pioneira de luxo ético a inventar uma moda desejável e sustentável, ao substituir o pelo e as peles de animais por materiais ecológicos. O enorme desafio é responder aos desejos dos novos consumidores de luxo sobre a origem das roupas, que têm consciência de que a indústria da moda é das mais poluentes do mundo.
Cada vez mais há a preocupação com o colapso da biodiversidade ou o sofrimento dos animais.
E neste sentido, a ecologia já não é considerada uma obrigação , mas uma oportunidade de inovar, já não é uma opção, mas uma necessidade.
Valorizar o bem estar animal é o desafio mais “touchy” do momento. Depois de Armani em 2016, nomes como Gucci, Versace ou John Galliano abandonaram o uso do pelo animal. As tendências “vegan” contra o uso do pelo animal obrigaram a moda a redefinir-se.
Diversos líderes mundiais da indústria têxtil e do vestuário estão a levar a cabo projetos ambientais ambiciosos, numa tentativa de reduzir o impacto do sector no meio ambiente.
As grandes marcas procuram cada vez mais alternativas capazes de corresponder às exigências de qualidade do luxo, recorrendo a start-ups de Biotecnologia. Os couros sintéticos à base de fibras de ananás, de maçã ou de bambu não têm ainda a resistência, a flexibilidade e a estética desejados, mas continua a haver estudos e investimentos para a sua utilização ser completamente possível.
Há também o desenvolvimento de texteis e fibras biodegradáveis à base de algas e lã vegetal.
E surgem, assim, coisas incríveis, no mundo da moda. Salvatore Ferragamo apresentou uma “coleção cápsula” que usa fibra extraída da laranja. Com esse fio, parecido com a seda, Ferragamo projetou uma coleção poética, que evoca a Sicília. É um novo sistema de reciclagem e é uma mensagem muito forte.
Neste caminho rumo à inovação, o universo da Beleza dá igualmente passos largos no sentido da redução de ingredientes químicos nas suas composições e o comprometimento com a preservação das matérias primas vegetais, com as grandes marcas a criarem cadeias de fornecimento sustentáveis.
O luxo do século XXI não negligencia os resíduos, e está a investir em criar valor a partir de matérias desprezadas. Marc Abélès, antropólogo autor de “Un Ethnologue au Pays du Luxe” afirma: ”Há muito tempo associado ao excesso, ao fausto e á ostentação, o luxo inscreve-se agora numa tendência “care green” que consiste em cuidar de si próprio e do planeta. Cada vez mais os consumidores rejeitam roupas e cosméticos que resultem em agressões á Terra. Em vez disso, procuram uma harmonia pacífica, uma arte de viver em consonância com a Natureza.”
Mesmo que o número de inovações ainda esteja no estado experimental, a metamorfose do luxo está muito bem lançada.
Por parte dos consumidores verifica-se cada vez mais consciência e atitudes amigas do ambiente.
O movimento “slow fashion” incentiva a ética também na hora de adquirir uma peça, pensando no impacto negativo que a produção em grande escala traz ao meio ambiente e pessoas envolvidas (ou não) no processo. Isso vai desde a quantidade de água desperdiçada durante a fabricação até os efeitos psicológicos que a cultura do“tem que ter” gera.
O consumismo sem medida é prejudicial para quem o pratica, pelo elevado gasto de dinheiro, mas também para o meio ambiente.
A moda consciente é mais do que uma tendência.
E a tendência é reutilizar o que já existe no guarda roupa sustentável.
E frases como: “Compre menos, escolha bem, faça durar” ( Vivienne Westood), ou “Usar bem o que se tem, Consertar tudo o que é possível, Transformar o usado em novo, Trocar ou emprestar, Comprar só o essencial”, ou “Moda ética é o novo preto”, são cada vez mais comuns, lidas e repetidas um pouco por todo o lado.
Em resumo, cabe a todos nós, consumidores, criadores, grandes e pequenas marcas de moda e beleza, agir e tomar atitudes sustentáveis no sentido da preservação do Planeta.
(Já a lendária Coco Chanel não se conformava com as mulheres que dispensavam um guarda-roupa inteiro a cada estação do ano. A atitude denota muito dinheiro, mas pouco estilo, concluiu a estilista).
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