Rodrigo Estiveira
Várias queixas trazem jovens adolescentes á consulta, mas raras vezes por cefaleias. Embora raras, esta condição não deixa de ser menos interessante e desafiante para tratar. (Chaibi & Russell, 2014)
As cefaleias referem-se a dores sentidas na cabeça ou na zona superior do pescoço e as dores e incapacidades por elas provocadas não deixam ninguém indiferente.
Embora haja vários tipos de cefaleias com causas múltiplas, irei apenas para efeito desta reflexão referir-me às cefaleias de origem tensional. Isto é, cefaleias que têm como origem tensões musculares. Estes tipos de cefaleias podem ser caracterizados por uma dor opressiva e constante na parte superior do pescoço e base do crânio.
Embora não tenha dados estatísticos referentes á incidência de cefaleias na população jovem, elas afectam cerca de 3 a 15% da população geral (Chaibi & Russell, 2014) e maioritariamente mulheres (Chaibi & Russell, 2014). Por vezes são pontuais mas podem ser também recorrentes afectando o desempenho no dia-a-dia e a produtividade. Neste caso afectam o desempenho escolar.
Durante a adolescência, duas variáveis são importantes para caracterizar o período em que se encontram os jovens que procuram tratamento.
A primeira variável diz respeito ao crescimento ósseo. Embora haja um crescimento homogéneo durante a adolescência, é dos 11-13 anos nas raparigas e dos 12-14 anos nos rapazes que se dá um pico maior de crescimento (Dunn et al., 2018). Durante esta fase, o crescimento ósseo dá-se de tal forma rápida que as estruturas ligamentares e musculares leva um pouco mais de tempo a se adaptar. É nesta altura que, para além das habituais “dores de crescimento”, podem também surgir as cefaleias.
Outra situação diz respeito às exigências da vida Escolar. Para alguns alunos são os ciclos de longas horas de estudo, o stress e a ansiedade. Estes dois últimos gerados pelas expectativas face a eles próprios e às dos pais do que diz respeito ao desempenho e ao sucesso escolar. Tudo isto faz com que aumente a tensão nos músculos profundos do pescoço e base do crânio.
Estas tensões musculares podem diminuir, mesmo que seja de forma muito ligeira, a dinâmica de fluidos para dentro e fora do crânio, causando assim episódios de cefaleias tensionais.
O tratamento é simples e pode passar por abordagens não medicamentosas.
A Fisioterapia com a sua vertente de Terapia Manual e a Osteopatia podem ajudar no alívio e tratamento das cefaleias pois possuem técnicas manipulativas gentis que podem ser usadas com sucesso.
Essas técnicas podem englobar manipulações de tecidos moles, tais como: massagem, alongamentos, mobilização activa e passiva, como também manipulações articulares, para além de exercícios a serem realizados em gabinete ou domicílio.
A massagem e as restantes técnicas gentis de mobilização articular e tratamento de músculos e restantes tecidos moles são, neste momento à luz da evidência científica, uma correcta escolha para o tratamento de cefaleias como alternativa à medicação (Chaibi & Russell, 2014; Chaibi, Tuchin, & Russell, 2011). Contudo, as técnicas de manipulação articular de (alta velocidade) cervical, não que sejam desaconselhadas, mas embora produzam bons resultados não são superiores do que técnicas de manipulação de tecidos moles (Chaibi et al., 2011).
A fase da adolescência é uma fase de grandes transformações tanto a nível emocional como a nível físico. No caso deste último, as cefaleias podem ser uma consequência de adaptação transitória do organismo.
A Fisioterapia e a Osteopatia pode ajudar no alívio dos sintomas e na resolução do problema. Não obstante, é importante que um correcto diagnóstico diferencial seja realizado para descartar outras possíveis causas de cefaleias. Enquanto pais, estejam atentos e aconselhem-se sempre que for necessário.
Caso necessite, poderá contactar:
Bibliografia
Chaibi, A., & Russell, M. B. (2014). Manual therapies for primary chronic headaches: a systematic review of randomized controlled trials. J Headache Pain, 15, 67.
Chaibi, A., Tuchin, P. J., & Russell, M. B. (2011). Manual therapies for migraine: a systematic review. J Headache Pain, 12(2), 127-133.
Dunn, J., Henrikson, N. B., Morrison, C. C., Blasi, P. R., Nguyen, M., & Lin, J. S. (2018). Screening for Adolescent Idiopathic Scoliosis: Evidence Report and Systematic Review for the US Preventive Services Task Force. JAMA, 319(2), 173-187.