Tiago Corais
Há duas semanas perdi a minha avó e desta forma dedico este artigo a todos os Avós e a todos os Netos que tiveram a sorte como eu tive, de conviver com eles.

É verdade que os avós “são pais, com açúcar”, ou “são pais duas vezes” ou mesmo “os avós são amor que nunca envelhece e sabedoria que nunca acaba”. Os avós raramente ralham, proporcionam-nos só coisas boas, dão-nos muitos conselhos amigos, contam-nos histórias reais mas que parecem contos de fadas e têm uma cumplicidade tão grande connosco que nos fazem sentir crianças para sempre. Sim, se existe Peter Pan em cada um de nós é aos nossos avós que os devemos.
Nestas dias tenho recordado os momentos tão especiais que tive com os meus avós e como eles me inspiraram. A minha prima Joaninha, através de uma mensagem fez-me recordar como eles foram e são importantes para mim.
Apesar de quando o meu Avô Caldeira faleceu ter apenas 2 anos, tenho a imagem dele de mãos atrás das costas, a andar de um lado para o outro na sala de jantar dos avós do Porto e eu e o meu irmão gémeo o seguirmos. Não sei se a imagem é real ou se foi criada depois dos meu pais me contaram, mas é uma imagem que faço questão de guardar.
Da minha Avó Lurdes, recordo-me do seu colo, das vezes que me dava uma nota e dizia para não contar a ninguém. Das vezes em que vinha para nossa casa e desde o dia que chegava até ir embora dizia que amanhã se ia embora. Era tão triste quando chegava o dia de se ir embora e ouvir que queria ficar. Recordo-me das vezes que chegava a casa dela e apesar de não gostar de sair de casa desde a morte do meu avô, quando eu lhe dizia “que gostava de ver a minha avó bonita”, passado um bocado os dois e a minha tia Manelinha atravessávamos a Rua da Boavista e íamos ao cabeleireiro. Era tão bom ver o sorriso de felicidade da minha avó depois de arranjar o cabelo e ela realmente ficava mesmo bonita!
Eu e o meu irmão fomos uns privilegiados por termos tido a oportunidade de ouvirmos histórias fabulosas na primeira pessoa e escutarmos os poemas que a minha avó nos recitava. Uma das grande lições que tive da minha avó foi que o carinho faz milagres. No ano em que ela faleceu fiz questão de com a minha mãe nas férias de Verão estar com ela uma semana. Lembro-me quando cheguei e infelizmente, ela não falava e reagia pouco à nossa presença. No primeiro dia falei com ela o tempo todo, contando as minha novidades, as minhas notas nos exames nacionais e o que pretendia fazer no futuro. Foi com grande alegria que no dia seguinte quando acordo ela falava e parecia outra pessoa. Foi um dos momentos mais reconfortantes que tive na minha vida e sinto-me gratificado por ter presenciado a este momento tão especial. Levo uma lição para a vida, o carinho faz milagres e dá-lo às pessoas que mais amamos é a coisa mais importante nesta vida.
O Avô Corais, recordo-me muito das visitas quer aos Armazéns do Minho, quer aos Armazéns do Carmo e como ele nos dava muito atenção. Quase sempre parava o que estava a fazer e ou vinha connosco lanchar ou nos pagava o lanche. Lembro-me das caminhadas em Carvalheira com ele e dos convívios em família que eram frequentes. Lembro-me dos seus aniversários, que não terminavam com um discurso ao qual eu ficava deliciado a ouvi-los. Lembro-me com muito carinho dos “debates políticos” entre mim, o meu irmão Miguel e o meu Avô. Ele achava-nos piada, mas como tínhamos alguns pontos de vista políticos diferentes do meu avô, ele nos dizia que éramos muito novos para estas discussões. O Avô Corais era uma força da natureza e quem me conhece sabe que é uma das minha referências. Com ele aprendi que devemos ser verticais, honestos, empenhados e que devemos fazer a diferença em tudo que fazemos. Devemos sonhar, mas ao mesmo tempo sermos pragmáticos, ou seja, termos os pés bem assentes na terra e olhar os problemas de frente, para que sejam resolvidos.
Da Avó Dores, lembro-me dos almoços semanais, que eram uma tradição para todos os netos. Lembro-me da dedicação ao meu avô e do carinho que os dois tinham um pelo outro. Lembro-me, já em adulto, das tardes que eu e a Andreia passávamos na conversa com ela e de repente ela nos fazia um chá e umas torradas. Recordo-me também, como com a morte do meu avô ela fez questão de viver o restantes dias com qualidade e desfrutar ao máximo. Aos 93 anos deu-nos uma grande lição, ao ter sido atropelada, a sua vontade de viver foi tão grande, que passado 6 meses já estava a andar sem ajuda.
Uma grande lição que me fazia acreditar que a Avó Dores seria eterna, a sua juventude e a sua vontade de viver eram tão fortes, que nunca pensei que este momento chegasse. No entanto, de há um ano para cá, de cada vez que ia a Portugal e a visitava, verificava que o tempo estava a passar por ela muito rápido. Tão rápido, que em Setembro quando celebrou os seus 99 anos fiz questão de festejar com ela. Nem imaginam como me serve de consolo ter partilhado com ela o seu aniversário. Fico feliz de lhe ter dado o melhor presente que a poderia ter dado, que foi com a surpresa da minha presença ter homenageado as suas 99 Primaveras. A lição que levo da Avó Dores é dedicar a vida aos outros com muito amor, viver a vida com muita vontade e muita garra.