Carla Guimarães Cardoso
O efeito placebo é um fenómeno fascinante que ocorre quando há uma melhoria de um sintoma ou de uma doença provocada pela percepção do doente relativamente ao tratamento que está a efectuar.
Descomplicando, o doente melhora não pelo efeito directo da substância que está a tomar mas graça à expectativa de melhoria que tem.
O efeito placebo está presente sempre que um determinado tratamento tem um efeito terapêutico superior aquele que seria expectável, ou seja, a minha dor de cabeça passou depois deste copo de água.
O grande enfoque relativamente a este efeito tem sido no estudo de potenciais fármacos ou intervenções. É fundamental distinguir o real efeito terapêutico de um medicamento de um possível efeito placebo. Para tal são efetuados estudos randomizados, controlados e duplamente cegos. Traduzindo, reúne-se um conjunto de indivíduos, que representam a população alvo em que queremos intervir, dividimos esses indivíduos em dois grupos idênticos (randomizados) e damos a cada indivíduo dois tipos de comprimidos em tudo idênticos. Ninguém no grupo sabe se está a tomar o comprimido com a substância a ser estudada ou se está a tomar um simples comprimido de açúcar (controlado), nem o investigador (duplamente cego). No final são comparados os resultados dos dois grupos. Uma melhoria no grupo que tomou o comprimido de açúcar é atribuída ao efeito placebo. Um fármaco só é eficaz quando o seu efeito, ou seja, se a melhoria no grupo que tomou, é superior ao efeito placebo.
Qualquer substância ou tratamento só são considerados terapêuticos se passarem este crivo. Não basta dizer que resulta porque a minha vizinha melhorou.
Ultimamente este efeito tem adquirido cada vez mais importância dado o seu potencial de modulação dos tratamentos. As nossas crenças e expectativas modelam parcialmente a nossa resposta ao tratamento efectuado (resposta essa independente do real efeito terapêutico).
Este condicionamento pode ser induzido ( por exemplo pelo terapeuta) ou apreendido socialmente.
A enxaqueca, a dor articular, a ansiedade e a depressão são algumas das condições médicas mais sensíveis ao efeito placebo.
Este é um fenómeno complexo com vários mecanismos neurobiológicos subjacentes sendo também influenciado pela relação médico-doente, o estado psicológico e a personalidade do doente, a gravidade da doença e as circunstâncias envolventes.
Numa era em que se questionam os poderes instituídos, sendo a ciência um desses poderes, assistimos ao ressurgimento de crenças com novos nomes pseudocientíficos. Em que paradoxalmente temos tanto conhecimento ao nosso dispor mas tanta iliteracia científica temos que nos relembrar o que é a ciência e o método científico.
O nosso cérebro comanda uma formidável indústria farmacêutica que é o nosso corpo. Ele produz uma panóplia de medicamentos: antibióticos, antimicóticos, analgésicos, antipiréticos, anti-inflamatórios, ansiolíticos, antidepressivos, imunoestimulantes, entre outros.
Qualquer fármaco ou tratamento, por muito pomposo que seja o nome, muito apelativa que seja a publicidade ou por muito que a minha vizinha diga que realmente resulta só é comprovadamente eficaz se o seu efeito for superior ao efeito placebo.
O método para o demonstrar é conhecido desde 1752 quando James Lind, sem o saber, realizou o primeiro estudo randomizado e duplamente cego com grupo de control.
Quer saber se um tratamento é realmente eficaz? Informe-se, procure estudos válidos (randomizados e duplamente cegos) que o demonstrem.
Se não estão disponíveis…..desconfie, pela sua saúde.