Cidália Pinto
Este final de semana, estava encostada ao balcão, da cozinha de lenha da minha avó, a vê-la desfolhar um repolho, muito calmamente: folha a folha.
– Vó, não seria mais depressa cortar o repolho aos pedaços?
– Comecei com tempo, gosto de tirar uma folha de cada vez.
Mantive-me à beira dela a apreciar os movimentos, e a reparar o cuidado em cada acto. E ela não tem esse cuidado pela dificuldade em mobilizar-se, tem esse cuidado porque aprendeu a tê-lo, conservou-o.
As panelas brilham por fora, mesmo que o lume da lareira as enfarrusque constantemente.
Há uma persistência em mostrar o bonito de cada coisa, ou de embelezar…
Essa forma de preservação está a extinguir-se.
A sociedade actual olha para a panela e pensa: se só mecessito do interior, limpo, para quê perder tempo em polir o que voltará a ficar enfarruscado?
Tudo isso para dizer que associei todo o tema “Conan Osíris” a essa pressa de fazer sem os detalhes, sem o primor. Sem o Belo.
O português não precisa ser bonito. O sentido não requer, sequer, fazer sentido.
Mas a culpa nem é dele.
Afinal “bué” é mais “cool” do que :muito.
Creio que estamos todos numa cena muito silly, ou será deep?