Ricardo Jorge Freitas
A crise financeira que abalou o mundo em 2007, provocada pela derrocada de Bancos “impossíveis de falir” como o Lehman Brothers, trouxe com ela uma palavra que muitos conheceram pela primeira vez, outros, mais velhos, trazia muito más recordações. Falamos da Austeridade.
Não importa aqui explicar o que provocou esta crise ou explicar as medidas que foram tomadas para inverter esse ciclo recessivo, até porque todos a sentiram, uns mais e outros menos, mas todos viveram esse momento de tormenta na economia portuguesa e das famílias.
Passados mais de 10 anos, a palavra “maldita” parece já esquecida ou, pelo menos, já não é o tema central dos debates e tertúlias. Agora fala-se em desenvolvimento, em optimismo, em construir, em consumir, em gastar, etc.
A pergunta que gostaría de lançar é, que está a fazer para preparar-se para a próxima crise?
Não, não estou a prever o apocalipse nem sequer estou a dizer que vamos entrar em crise ou recessão a curto prazo. Lanço a pergunta porque, se é verdade que a crise de 2007 apanhou o mundo desprevenido (falência de Bancos Gigantes em menos de 24h, Agencias de Rating que atribuíam ratings altíssimos a troco de dinheiro, bolhas imobiliárias, activos tóxicos misturados com activos de prestígio, etc), ou seja, o comum dos mortais não podia prever este estouro da economia global.
Mas agora já sabemos duas coisas:
1) O Capitalismo vive de ciclos económicos. Nos tempos de prosperidade, cresce-se até atingir um ponto de inflexão que resulta num período de crise. No tempo de crise, é tempo de “limpar” os excessos para permitir que a economia volte a crescer até que chegue a um novo ponto de inflexão e resulte numa nova crise. E os ciclos continuam, normalmente, cada período pode variar entre 5 a 10 anos.
2) Uma crise pode chegar sem aviso. Até agora, houve 3 grandes crises mundiais: a de 1929 (superprodução que levou ao colapso da economia), a de 1979 (crise petrolífera) e a de 2007 (crise financeira). Se repararem, e voltando aos “ciclos”, elas acontecem a cada 40/50 anos. Já passaram 10 anos desde esta última, será que temos mais 30 anos de prosperidade pela frente?
Estas teses, apresentadas pelo economista russo Nikolai Kondratiev, têm sido válidas desde a sua fundamentação no início do século XX. Mas, na altura, o Mundo era “outro”, ou seja, não estávamos aínda na era da globalização com os seus tratados de livre comércio, abertura de fronteiras a pessoas, bens, serviços e capitais, não havia internet para trocar dados, informações, transferências instantâneas, Blockchain, Big Data, etc.
Na minha opinião, acho que é justo dizer que vivemos numa nova era, completamente diferente da geração anterior. E por isso, acredito que os modelos económicos estão a mudar, o que significa que as previsões económicas podem não valer muito porque desconhecemos aínda como funciona verdadeiramente o modelo económico “Global”.
Temos políticos a caminhar numa globalização sem perceberem muito bem como o mundo irá reagir a ela. Temos a população que quer os benefícios da globalização mas rejeita as desvantagens da mesma, apenas e só, porque não sabem como as coisas funcionam na verdade.
E é normal, quando aínda não há um manual de instruções para esta nova economia, a probabilidade de as coisas correrem mal é muito grande. A boa notícia é que aprende-se sempre mais com os erros do que sem eles.
Voltando à situação portuguesa e à minha pergunta “que está a fazer para preparar-se para a próxima crise?”, o leitor tem agora algo mais de informação para pensar numa resposta a esta pergunta.
Esqueça os ciclos económicos, eles podem já não ser válidos neste mundo actual. O Mundo hoje vive mais rápido, veja a forma como Hoje faz as suas compras! Você lembra-se que quer comprar algo, vai à internet pesquisar e compra on-line no momento, a sua preocupação é quanto tempo vai levar para a encomenda chegar à sua casa e não admite atrasos. A preocupação não passou por saber onde foi fabricado o produto nem a quem está a entregar o seu dinheiro, pois é grande a possibilidade que essa empresa “online” não esteja em Portugal, nem sequer na Europa. Isso não o preocupa porque você só quer o produto em sua casa.
Não obstante, quando as empresas saem de Portugal, há um mar de críticas às políticas do governo que estiver em funções. Quando uma empresa fecha, a culpa é sempre do patrão que não soube gerir. Quando há uma bancarrota, é porque o Estado gastou mais do que podia. Mas ninguém pára para pensar que para tudo isto acontecer, é porque houve um mecanismo que despoletou a falta de liquidez ou de competitividade.
A crise irá chegar, é a má notícia que tenho para si. É um facto, não se iluda com os tempos de relativa prosperidade que possa estar a ter neste momento. A questão é quando irá chegar. E segundo o que tentei explicar aqui, ela pode chegar amanhã ou tardar 3 ou 5 anos. Mas irá chegar!
E no dia em que isso acontecer… Que está a fazer para preparar-se para a próxima crise?