Rui Canossa
Portugal poderá estar a perder o equilíbrio virtuoso que tem conseguido alcançar, entre um crescimento económico sólido e um saldo externo positivo.
Em 2018, o equilíbrio externo do País começou a degradar-se e a diferença entre as compras e as vendas foi o principal motivo por detrás da travagem da atividade no final do ano. Estará Portugal a regressar aso vícios do passado e a uma realidade em que não consegue crescer sem se endividar face ao estrangeiro?
Embora tenha o PIB tenha crescido 2.1% em 2018, ficou 0.7 pontos abaixo do ano anterior. Essa desaceleração do crescimento económico explica-se não só pelo arrefecimento do consumo e do investimento, mas também com o contributo negativo da procura externa líquida, ou seja, a diferença entre as exportações e as importações. No último trimestre de 2018, este indicador teve o pior registo em três anos e meio, com um contributo negativo de -1.6% do PIB. Valor que se justifica pelo travão das exportações de mercadorias. As vendas de bens ao exterior caíram 1% nos últimos três meses do ano. Para encontrar um trimestre pior é preciso recuar até 2009. As importações portuguesas também diminuíram mas a um ritmo mais lento do que as exportações o que penaliza o PIB.
No entanto, há mais sinais preocupantes, a Balança Corrente e de Capital, fechou o ano em 0.4% do PIB. Um número que representa a diferença entre aquilo que o País recebe e aquilo que paga ao estrangeiro. Um valor positivo é bom, pois indica que o país tem capacidade de financiamento externo. Mas, esse excedente de 0.4% do PIB é o pior dos últimos seis anos. Em 2013 era de 3.2% do PIB, passando para 1.4% em 2014, 1.6% em 2015, 1.4% em 2017 e agora 0.4% do PIB. Relembro que em 2008, atingiu os -10.9% do PIB, o que era de facto muito mau.
Se olharmos para o panorama das exportações verificamos que houve uma mudança significativa. As exportações representavam 28% do PIB, em 2010, para passarem a representar 45%, em 2018. Mas desde 2015, pouco cresceram em percentagem do PIB.
Este fenómeno pode resultar de duas causas. Nos últimos quatro anos perdeu-se vigor nas exportações que aparentemente deixou de ser um objetivo estratégico do País, e, conjunturalmente, estarmos perante um abrandamento nos principais mercados externos de Portugal.
Estaremos a regressar ao passado? Ao modelo de crescimento pré-crise? Assente no crescimento do consumo e do investimento financiado por maior endividamento? Um crescimento mais sustentado nas exportações do que no consumo privado seria uma forma de minorar alguns desses efeitos negativos. A crise trouxe dois efeitos, a diminuição do consumo interno e uma redução das importações e também o aumento das exportações (e do turismo), motivado pelo facto de as empresas nacionais terem um mercado interno reduzido, sem poder de compra, pelo que os empresários portugueses foram à conquista do mundo.
Além da degradação do saldo externo, a economia portuguesa começa a apresentar outros sinais de regresso ao passado. O crédito ao consumo está em máximos de 2008 e o número de utilizadores de cartões de crédito encontra-se em máximos de dez anos. A taxa de poupança atingiu mínimos históricos de 4.5%, ou seja, as famílias portuguesas poupam menos de 5€ em cada 100€ de rendimento disponível. Sem poupança os bancos vão financiar-se no estrangeiro aumentado a dívida externa. Já não basta a dívida pública ser de 125% do PIB, junta-se a dívida privada que continua acima dos 100% do PIB.
Com estes acontecimentos é possível que os problemas de financiamento que assolaram o País antes da crise possam voltar o que não é nada recomendável, não se aprendeu nada com o passado?