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NA PÁSCOA DA MINHA INFÂNCIA

Raquel Evangelina

Na Páscoa da minha infância fazíamos competições a ver quantas vezes conseguíamos beijar a cruz. Não queríamos saber de questões de higiene e saúde pública, apenas tínhamos era que conseguir beijar mais vezes que os nossos primos. Não ganhávamos nada, mas pronto, apenas e só moral e aquele ar de “Sou melhor que tu!” (Éramos tão inocentes.)

Na Páscoa da minha infância, e porque em minha casa se celebra à segunda, ao Domingo levantava-me cedo e ia para casa da minha tia receber o compasso. Depois da cruz beijada era sentar a petiscar amêndoa daqui, amêndoa de acolá, até fazer tempo para a hora de almoço. O meu primo, batoteiro, aproveitava e ia beijar a cruz à casa da vizinha que é tia dele, só para estar em vantagem. 

Ao almoço não podia faltar o anho assado e, para os não apreciadores tipo eu, o frango assado, com o arroz do forno e a batata assada. A hora da sobremesa era tipo o milagre da multiplicação em quantidade e em diversidade desde o tradicional folar e pão de ló, até às Cavacas de Resende ou à Torta de Noz de Matosinhos. Há de tudo e para todos os gostos. Não estou a brincar se disser que era cerca de 9 ou 10 sobremesas diferentes e claro uma pessoa gosta de provar tudo. 

Depois de comer até não conseguir apertar o botão das calças, literalmente, da parte da tarde era para a casa de um tio onde, como não havia mais que fazer, petiscava-se à espera da cruz. Depois daquele tio íamos para casa de outro tio beijar a cruz e começar um pré-jantar. O meu domingo de Páscoa terminava ao beijar a cruz pela quarta vez, na casa da minha avó, onde jantávamos. (Porque de facto naquele dia se há coisa que ainda não tínhamos feito era comer.)

Na segunda voltávamos ao mesmo. Beijar a cruz na casa dos meus avós maternos (onde vivo) e almoçar. Mais sobremesas com fartura que uma pessoa nestes dias fecha os olhos à dieta. Depois de almoço rumávamos a casa dos meus tios que também só celebram à segunda para beijar novamente a cruz e comer só mais um bocadinho. Por vezes ainda mandava um sms a uma amiga que morava lá perto para beijar também a cruz em casa dela. Porque se o meu primo era batoteiro eu também podia ser.

Na Páscoa da minha infância era fantástico. Tínhamos sempre roupa nova para estrear. O último dia de aulas era de festa. Vá também tínhamos que ir à missa mas isso é outra história. Os padrinhos davam-nos o folar. Aliás tenho um enxoval praticamente feito graças à minha madrinha de crisma. E era tudo lucro porque quem pagava os ramos que eu lhes dava era a minha mãe. A minha madrinha de batismo dava-me normalmente roupa que eu sabia sempre que seriasuper in porque quem escolhia era a minha prima. 

Na Páscoa de hoje ainda tenho um bocadinho da Páscoa da minha infância. Apesar de tudo tenho uma família que ainda mantém a tradição. Já não beijo tanta vez a cruz, mas também não entro em competição por isso. Continuamos a juntar-nos todos e a percorrer as casas, se bem que com o passar dos anos as casas já não são tantas. Uma desvantagem é que apesar dos meus padrinhos continuarem a dar-me folar, os ramos já são à minha custa. Quanto à comida, bem nesse caso a tradição ainda é o que era. Há que comer nesses dois dias. Depois logo se vê. 

Votos de uma Feliz Páscoa. (Eu sei que ainda falta uns dias mas não vou escrever nenhuma crónica antes da data). Independentemente de ter um significado religioso, ser um mote para juntar a família, ou ser a desculpa para fazer uma escapadela de férias que seja uma época feliz. E doce como as amêndoas.

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