Carla Guimarães Cardoso
A amigdalectomia é um procedimento simples e rápido com uma prevalência de complicações baixa.
Os primeiros relatos de amigdalectomia encontram-se em escritos hindus e datam de há 3 milénios atrás. A primeira descrição completa de uma técnica cirúrgico para exérese das amígdalas foi feita pelo médico romano Cornelio Celsius no século I ac. Celsius usou um bisturi desenhado por si e utilizou vinagre para controlar a hemorragia.
Em 1543 Andreas Vesalius descreve anatomicamente as amígdalas mas é somente no século IXI que são publicados estudos anatomohistológicos da região faríngea pelo alemão Wilhem Von Waldeyer. Este descreve uma estrutura anelar de tecido linfóide em torno do nariz e boca que veio a receber o nome de anel de Waldeyer. Esta estrutura é constituída pelas amígdalas de Gerlach, as adenoides, as amígdalas palatinas (vulgarmente denominadas de amígdalas), as amígdalas linguais, as bandas faríngeas laterais, as granulações linfóides faríngeas e o tecido linfóide dos ventrículos laríngeos.
As amígdalas palatinas crescem até à adolescência após a qual o tecido linfoepitelial amigdalino inicia um processo de atrofia parcial.
O seu papel ainda não está perfeitamente compreendido mas desempenha função de reconhecimento, processamento e apresentação de antigénios e expressão de imunoglobulina A secretora específica na mucosa da via aérea e digestiva superiores. Estas funções são partilhadas por todo o anel de Waldeyer assim se compreende a inexistência de qualquer alteração imunitária em doentes submetidos previamente a amigdalectomia.
Mas quais as razões para se removerem as amígdalas?
As indicações podem ser absolutas ou relativas.
São indicações absolutas, isto é, sem azo a qualquer dúvida ou adiamento, a existência de sintomas obstrutivos graves da via aérea superior ou de síndroma de apneia obstrutiva do sono, disfagia grave (dificuldade em alimentar-se), suspeita de neoplasia, febre provocada por amigdalites em doente com convulsões febris, abcesso periamigdalino recorrente e hemorragia amigdalina recorrente ou persistente.
São indicações relativas:
– 7 ou mais amigdalites por ano, ou 4 ou mais amigdalites por ano em 2 anos consecutivos ou 3 ou mais amigdalites por ano em 3 anos consecutivos.
O diagnóstico de amigdalite implica a presença de pelo menos dois dos seguintes critérios: exsudado amigdalino purulento; temperatura superior a 38ºc, adenopatias dolorosas com tamanho superior a 2cm e resultado positivo para a pesquisa de Streptococcos β hemolítico do grupo A.
São igualmente indicações relativas para amigdalectomia:
– alterações orofaciais ou dentárias
– alterações da deglutição ou da fala
– amigdalite crónica associada a odinofagia (dor de garganta) recorrente, halitose (mau hálito) ou adenopatias cervicais.
A amigdalectomia é um procedimento simples e rápido com uma prevalência de complicações baixa. Destas a principal é a hemorragia estimando-se uma incidência de 2-3%.
Concluindo, a amigdalectomia tem indicações relacionadas com patologia infecciosa e/ou patologia obstrutiva.
O doente operado pode esperar uma melhoria da qualidade de vida com resolução das comorbilidades associadas à patologia amigdalina, isto é particularmente relevante na criança.