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Cultura, Literatura e Filosofia

ADOLESCÊNCIA /SENESCENCIA : DOIS MODOS DE CRESCER

Regina Sardoeira
Senescência, palavra que acima de todas prefiro à outra,  que até pode parecer sinónima mas que o não é, efectivamente, e até rima com adolescência, esse estado que também não  o é, enquanto tal, porque está ali de passagem e, mais incisivamente ainda, tem por étimo adolescere  do latim, significando, crescer… Mas,  regressando à senescência, eu afirmo que há um movimento, uma expansão neste termo que  o separa, desde logo, do outro e afirma uma caminhada, ao invés de um fim de jornada. E tal caminhada contrariamente à anterior,  vive-se com uma intensidade centrada no minuto ou no segundo, confinada às 24 horas de um dia, separadas, engenhosamente, das 24 horas do outro.
O adolescente vive depressa, cavalga sobre minutos horas e dias, quer crescer (está no étimo da palavra e ele faz – lhe jus), desperdiça o presente em prol do futuro que, quando chega, lhe traz fios brancos nos cabelos e uma teia de rugas à volta dos olhos. Por outro lado, o “senescente” tritura o tempo nos pequenos instantes que se alongam infinitamente, observa os pequenos nadas que lhe escaparam quando “adolescia”,  compraz – se em prazeres insuspeitados, desde fazer escorrer areia por entre os dedos e ver que o sol a transforma em diamantes, até procurar em silêncio o pássaro que trina e ouvir-lhe o gorjeio face a face.
O adolescente, perturbado com o ritual do seu adolescer, mura-se num universo confinado e apenas seu, eriça-se quando o mundo adulto (onde deseja pertencer ) lhe quer sondar os movimentos indecisos; o “senescente” nada tem para esconder e por isso abre – se ao mundo e o sorriso cresce – lhe, sempre que encontra alguém a quem ouvir e fala, sempre que encontra ouvidos disponíveis.
O adolescente vive cada dia como se fosse o último,  devora os dias e muda-os em meses; o “senescente” vive cada dia como se fosse o primeiro e saúda o nascer do sol com hinos de alegria.
Há uma grande diferença nestas duas idades, tidas como críticas, exactamente por ocultarem crises. Mas a crise, qualquer que ela seja e onde quer que se manifeste,  é a mola propulsora para novas aventuras e não a entrega desolada do esplendor vital.
“Senescer” (deixem-me usar este verbo que eu não sei se existe, mas vão investigar e a seguir traduzam) ) é a expressão de um acto vital que conduz ao âmago do ser , com a consciência lúcida do trajecto e com a pisada certa no ponto indicado. Agora, os mapas estão traçados,  é só seguir as rotas com circunspecção;  antes o trajecto era um borrão indeciso por onde se adolescia caminhando em círculos.
Erik Erikson , um psicanalista responsável pelo desenvolvimento da Teoria do Desenvolvimento Psicossocial, na Psicologia, e um dos teóricos da Psicologia do desenvolvimento, dividiu as idades da vida em 8 estádios. Deixem-me destacar, dois, talvez três.
“5º Estádio (12 – 18 anos): de acordo com Erikson, nesta etapa o adolescente desenvolve a sua identidade, que pode sofrer alterações constantes devido a interacção social na escola, em casa, nos grupos, etc. É a famosa época do “quem sou eu?”. Os adolescentes são considerados rebeldes, imprevisíveis e impulsivos, mas tudo isso faz parte de um processo de encontrar a sua própria identidade. Actualmente até as séries e os filmes são factores importantes na formação do indivíduo; portanto o educador precisa de trabalhar esse lado íntimo e saber identificar as suas motivações. Se não for bem trabalhado o interesse do adolescente, o sentimento de isolamento é muito comum neste estádio, afectando as demais etapas da vida. Aqui podemos começar a trabalhar os fundamentos da Educaçoão, dando ênfase ao Aprender com os Outros, incentivando a interacção social, os relacionamentos e os conceitos que se formam de acordo com as experiências vividas.
7º Estádio (41 – 65 anos): Erikson afirma que este é um período de estagnação, onde o adulto já atingiu aquilo que estava procurando nos estádios anteriores e passa a cultivar os relacionamentos, preocupando-se mais com os outros do que consigo mesmo. A sensação de contribuir para algo é fundamental, portanto nesta fase é preciso despertar um propósito ao indivíduo. O que acontece muito, também, é uma frequente reflexão sobre tudo aquilo que fizeram em momentos anteriores, arrependidos dos erros e orgulhosos com os acertos. Trabalhar com o desenvolvimento neste estádio é apresentar formas de se tornarem mais produtivos, melhorarem as suas competências, buscar lacunas a serem preenchidas e proporcionar uma sensação de satisfação ao aprender algo novo.
8º Estádio (Após os 65 anos): a última etapa da nossa vida é também um momento de reflexão: ‘eu vivi uma vida significativa?’. Erikson destaca a sabedoria como uma virtude básica e alerta os educadores de ‘idosos’ para que saibam trabalhar os possíveis arrependimentos e insucessos. Neste estádio é comum a reflexão e o autoconhecimento, que, se não forem bem trabalhados, podem gerar amarguras e desesperos. Portanto, o desenvolvimento deve ser voltado para o futuro, pensando numa educação ao longo da vida, sem ‘remoer’ o passado. Erikson fala muito sobre ensinar o indivíduo a enfrentar o fim da vida, com sabedoria e paz, buscando a integridade do ego e dando valor às experiências adquiridas durante os estádios anteriores.”
Crendo em Erikson (e, neste contexto,) não referindo os restantes cinco estádios da existência), percebemos a indefinição e a rebeldia, o egoísmo e o centramento em si como apanágio da quinta idade e depois, na sétima e oitava, um sair de si, já realizado, para a troca com o mundo.
Adolescer é crescer, e todavia aquilo a que vim chamando senescer também o é. Não há períodos vazios ou fúteis na existência humana e, muito embora o adolescente queira ser adulto depressa e o senescente quisesse inverter a marcha e adolescer de novo,  o certo é que cada tempo vale a medida exacta que o ser humano houver por bem atribuir – lhe.

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