Raquel Evangelina
Escrevo-te estas linhas mesmo sabendo que poderás não as ler. Para te dizer que por aqui vai tudo bem, ou pelo menos faz-se para que assim seja. A vida continua a dar luta. Há dias em que nem sequer apetece sair da cama tal o desânimo. Outros em que até dói a barriga do tanto rir. E há aqueles em que são tantas coisas ao mesmo tempo a acontecer e para executar que quando se dá conta o dia já passou.
Escrevo-te estas linhas mesmo sem saber se terás interesse. Gostava de te dizer que os objetivos foram todos alcançados, mas nem de perto nem de longe. Por vezes parecem tão perto, mas depois a vida entra e diz. “Esquece. Ainda não é desta que é para ti!” E isso custa. E é frustrante. Mas vai havendo saúde. E isso é o mais importante, já dizia o outro. Poderia ao menos dizer coisas boas, que descobriram a cura do cancro, acabaram as guerras e as injustiças, mas isso já sabes que não…
Escrevo-te estas linhas mesmo que não te lembres de mim. Continuo a não gostar de Matemática (até porque para problemas basta a vida). A chorar que nem uma desalmada em filmes… e em livros. A revirar os olhos para não ter que ser desagradável com alguém. A ser facilmente ludibriada quando me apelam ao coração. A querer sempre viajar mais. A ser ansiosa (e a perceber pouco tempo depois que não valia a pena). A não ter dotes para culinária. A falar pelos cotovelos ou a escrever testamentos. (uma pessoa se tira à fala aumenta à escrita). A não saber definir um fora de jogo nem saber mais que 5 nomes do plantel do Futebol Clube do Porto. A ser boa conselheira, exceto se o conselho for para mim própria.
Escrevo-te estas linhas mesmo sem saber muito bem quem é o TU a que me refiro. Pode ser alguém que já partiu. Pode ser alguém que apesar de continuar neste mundo partiu à mesma da minha vida. Pode ser alguém que não me conheça, mas que se esbarre nesta crónica. Mas independentemente de quem sejas escrevo-te para te dizer que ainda há coisas bonitas. Que depois da tempestade o sol sempre brilha. Que não faz mal não saber que direção tomar (quantas vezes a vida troca-nos os planos e muda-nos o rumo.) Que um abraço dos pais cura tudo. Que sorte é ter quem amamos por perto. Que um sorriso de gratidão dos nossos é a maior recompensa que podemos ter. E que por muito mau que tudo esteja há sempre um amanhã. E amanhã é um novo dia.