José Castro
Vivemos num mundo onde, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), a cada dois segundos uma pessoa é obrigada a deslocar-se, a sair do seu lar, da sua localidade, por motivos de perseguição, guerras, calamidades etc. Dos quase 70 milhões de deslocados anuais, mais de 25 milhões tornam-se refugiados ao terem que abandonar o seu país.
Turquia, Alemanha, França e Itália são os países europeus que mais refugiados acolhem, estando Portugal no vigésimo oitavo lugar. Claro que é um assunto complexo que apresenta inúmeras vertentes: a capacidade limitada que um país tem de receber quem de tudo necessita; a fragilidade que causa nos países, que pela sua situação geográfica, são alvo da chegada contínua de milhares de refugiados, nomeadamente por via marítima; pela difícil acomodação dos refugiados dada a diferença da língua, cultura, hábitos, religião, etc; pela alegada indiferença e descriminação que um país faz perante situações de pobreza extrema dos seus próprios cidadãos, não esquecendo a possibilidade de alguns refugiados serem alegadamente terroristas. Obviamente que pontos positivos também ocorrem, nomeadamente a necessidade de mão de obra (em muitos casos qualificada), numa europa envelhecida e com baixa natalidade (duplo envelhecimento) e a oportunidade dada a estes refugiados de (re)aprenderem a viver em ambientes sociais onde a paz, o acesso a cultura, à educação, saúde e o respeito pela dignidade da pessoa humana (sem discriminação), são tendencialmente uma realidade.
A situação ideal será sempre promover a paz, os valores da democracia e a ética nos países de origem destes refugiados. Inúmeros organismos internacionais, uns mais políticos que outros devem colaborar em conjunto e de forma ética no sentido de promover paz e dignidade a todo o Ser humano.
Toda esta reflexão tem como finalidade manifestar o meu apoio e respeito profundo (pois escrever ou falar destes assuntos nada custa!) pelas ações do ativista português Miguel Duarte na ONG alemã Jugend Retteté que na embarcação “Iuventa10”, contribuiu para o salvamento de inúmeros refugiados no Mar Mediterrâneo. Diz-se que corre o risco de enfrentar uma prisão de 20 anos por suspeita de ajuda à imigração ilegal na Itália. Não percebo nada de direito, muito menos de direito internacional, mas acredito e sempre acreditarei no Ser Humano. Quando alguém em perfeito estado de consciência, buscar na sua alegada “sapiência,” ou nos seus calhamaços de legislação, qualquer justificativa para condenar um (verdadeiro) Ser humano que o único “mal” que faz é retirar da água outros Seres humanos que iriam morrer afogados, algo está muito mal! Não são esses os valores da democracia, não são esses os valores mais profundos da Humanidade patentes em inúmeros documentos de “direitos universais” e ratificados pela quase a totalidade dos países, não são esses os valores que advogam qualquer “religião” ou crença” espiritualista!
Que cada um saiba praticar e levar no maior raio de ação possível da sua influência, os valores fundamentais da Ética e da Paz a todos os Seres, humanos e não humanos.