Raquel Evangelina
Quando esta crónica sair estou novamente a celebrar Portugal em Gijón. Eu sei que já falei sobre o espírito dos portugueses no estrangeiro e na visão que os estrangeiros têm de nós. Mas não consigo deixar de pensar que por muito que ande gosto sempre de voltar a casa e cada vez me orgulho mais das minhas raízes.
O que me “mata” nesta feira é a comida. Por muito que ande nunca me habituei a comida espanhola. E uma semana e meia é dose. Chego a meio e já só penso na sopa da minha mãe. E no arrozinho de forno… ou a brandada de bacalhau do meu pai. E a comida identifica-nos tanto. Sempre que dizemos que somos portugueses dizem: “ah pois o bacalao.” Quando explico que temos muito mais que bacalhau dizem-me que sabem. Por isso gostam de ir ao nosso país, fartam-se de comer. Tive até um senhor que um ano me disse: “Eu conheço bem a comida portuguesa. Casei com uma mulher de Viana, daí ter engordado 20 kg desde daí.” De facto, a nossa gastronomia é qualquer coisa.
Outra das coisas é estarmos ao pé da praia e não desfrutar dela. Abrimos as redes sociais e é só fotos de pernas ao sol, bikinis e afins na praia ou na piscina. Olhamos para o lado e é só pessoal na praia e nós nada. O quanto não gostaria de estar estendida ao sol na praia da minha infância, ou a mergulhar no mar, sem me preocupar com nada. Deixando que ele me levasse ao seu sabor. E com ele os meus medos e anseios. A sorte é que aqui o tempo é mais instável que muita gente emocionalmente portanto até fico agradecida não ter que fugir a correr da praia porque desatou a chover torrencialmente.
Mas nem tudo é mau. Como já disse tenho imenso orgulho em ser de Portugal (e o orgulho não é vibrar com os jogos da seleção, porque eu sou orgulhosa e no entanto nem os jogadores conheço).
Orgulho é falar com todo o amor sobre o que o nosso país tem a oferecer a quem o visita mesmo que nesse dia nem tenhamos grande disposição para trabalhar. Orgulho é explicar o quão singular e único é o vinho verde mesmo que não bebamos álcool. Orgulho é sorrir com um pouco de presunção quando nos dizem o quão bem recebidos foram ao visitar o nosso país. Orgulho é chorar quando alguém nos conta que tem uma ligação especial a Aveiro porque foi lá com o marido antes dele morrer e só voltou 30 anos depois. (E eu nem sequer sabia quem era o marido e só vi a mulher daquela vez). Orgulho é perceber que por muito que goste de viajar (e gosto bastante, demasiado até) tenho sempre um sentimento de satisfação no regresso. Orgulho é perceber quando vejo um círculo social de amigos a brindar com o nosso vinho que queria estar a brindar (nem que fosse com água) com os meus amigos ou a família no terraço lá de casa, ou na esplanada do bar da terrinha.
Porque Portugal é isso. É amor e amizade. É boa comida. É bem receber. É gratidão. É orgulho em ser como somos. É azulejos. É fado e saudade. É uma nortada de vento na praia. É um pastel de nata e um café. É futebol (menos para uma leiga como eu). É portugueses que vêm de férias a falar uma espécie de frantuguês. É bacalhau. É vinho verde… com ou sem brinde. Façamos então um brinde a Portugal.