Paulo Morais
Médico dermatologista na Clínica Fisioskin (Porto), Grupo Trofa Saúde/Hospital Privado de Alfena (Valongo), Luz Saúde Clínica de Amarante (Amarante), Ponte Saúde (Amarante), Excelis Saúde (Lamego), Serviço de Dermatologia do Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro (Vila Real).
Cancro da pele: o que é e qual a sua relevância? O cancro da pele (CP) resulta do crescimento anormal das células que compõem a pele, sendo designados de acordo com o tipo de células que se tornam cancerígenas. Assim, “cancro da pele” refere-se a várias formas da doença, cada uma com diferentes sintomas, tratamentos e gravidade. Os CP podem dividir-se em cancro de pele não-melanoma (CPNM), ou epiteliomas malignos (carcinomas basocelular e espinocelular), e melanoma maligno.
O CP é a forma de cancro mais comum em todo o mundo, sendo mais comum que o cancro da mama, do pulmão, da próstata e do cólon juntos. Segundo as estatísticas mais recentes uma em cada cinco pessoas terá CP ao longo da sua vida. Em Portugal são detetados aproximadamente 11 mil novos casos por ano, dos quais cerca de mil são melanomas. A incidência dos diferentes tipos de CP tem vindo a aumentar devido, essencialmente, à exposição solar exagerada ou inadequada. Reconhece-se, contudo, que os números ainda são subnotificados nas estatísticas oficiais, pelo que se recomenda uma maior sensibilização e consciência por parte da população geral, profissionais de saúde, entidades governamentais e reguladoras para a problemática do CP.
Porque surge? Estima-se que 90% dos CP sejam decorrentes da exposição excessiva à radiação ultravioleta (UV) da luz solar. Por outro lado, há evidência clara que a frequência de solário também aumenta o seu risco. O solário pode expor a pele à radiação UV quase quinze vezes mais do que o sol do meio-dia do Mediterrâneo. Trinta sessões equivalem a 25 a 100 escaldões por exposição ao sol. Em pessoas que começam a utilizar cabines de bronzeamento antes dos 35 anos o risco de melanoma aumenta 60%, e a sua utilização antes dos 25 anos aumenta o risco de carcinoma espinocelular em 102% e de carcinoma basocelular em 40%.
Quem está em risco de ter cancro da pele? O CP é mais suscetível de aparecer em locais expostos ao sol (cara, pescoço, costas e membros). Os indivíduos mais vulneráveis são aqueles de pele clara ou propensa a queimaduras solares (fotótipos 1 e 2), que sofreram “escaldões” especialmente na infância e adolescência, que passam muito tempo ao sol ou que se expõem a um sol intenso durante curtos períodos de tempo (ex.: nas férias), utilizadores de solários, pessoas com mais de 50 sinais ou com história familiar de CP, imunodeprimidos (ex.: transplantados de órgão) e indivíduos com mais de 50 anos.
Quais os principais tipos de cancro de pele? Os CP mais frequentes, correspondentes a 97% de todos os casos, são os seguintes:
- Carcinoma basocelular ou basalioma (CBC). Forma de cancro mais comum na espécie humana, sendo o tipo de CP mais prevalente (65%). Embora seja a forma menos perigosa e tenha um crescimento lento, se não tratado atempadamente, pode ser localmente agressivo, destrutivo e desfigurante, ao invadir tecidos profundos; raramente se espalha para outras partes do corpo. Doentes com síndrome do nevo basocelular (de Gorlin-Goltz) têm risco aumentado de apresentarem múltiplos CBC.
- Carcinoma espinocelular ou epidermóide (CEC). Segundo tipo de CP mais comum (25%), surgindo tipicamente em áreas da pele sujeitas a grande exposição solar e frequentemente sobre lesões pré-cancerosas chamadas queratoses actínicas. De facto, cerca de 40-60% dos casos de CEC têm origem em queratoses actínias não tratadas. Pode também surgir em queimaduras, cicatrizes, trajetos fistulosos, úlceras ou feridas crónicas/antigas e em partes do corpo previamente expostas a radioterapia ou a produtos químicos (ex: à base de petróleo e arsénio). A infeção pelo vírus do papiloma humano (HPV) está intimamente relacionada com o CEC da região ano-genital. Por outro lado, transplantados de órgãos a fazer medicamentos anti-rejeição apresentam um risco 100 vezes superior à população geral de desenvolverem CEC pela imunossupressão decorrente destes fármacos. Finalmente, doentes com patologias de tornam a pele sensível ao sol, como o xeroderma pigmentoso e albinismo apresentam também um risco acrescido deste tipo de CP. O CEC é mais agressivo que o CBC e pode, em fases mais avançadas, metastizar para os gânglios linfáticos e atingir outros órgãos.
- Melanoma maligno (MM). É o menos frequente dos três principais cancros de pele, correspondendo a 7-8% das neoplasias cutâneas malignas. No entanto, é muito agressivo e letal, sendo responsável pela maioria da mortalidade decorrente de CP. Pode surgir em grupos etários mais jovens do que os tumores anteriores. Em cerca de 20% dos casos surge sobre um sinal já existente que modifica e maligniza; os restantes desenvolvem-se sobre pele aparentemente sã, mas com antecedentes de “escaldões”, especialmente na infância e adolescência, ou acentuada exposição solar.
Existem outros tumores malignos da pele, menos frequentes, designadamente o carcinoma de células de Merkel, o sarcoma de Kaposi e outros tipos de sarcoma, os tumores anexiais, o fibroxantoma atípico, os linfomas cutâneos (micose fungóide, linfoma de células B, etc.), entre outros.
Como se tratam os cancros da pele? O tratamento do CP é quase sempre cirúrgico e o seu sucesso depende de quando é diagnosticado, ou seja, numa fase inicial as probabilidades de cura são maiores, diminuindo numa fase mais avançada da doença. Por isso, a deteção precoce é fundamental. A escolha do tratamento é feita com base no tipo, tamanho, local e profundidade do tumor, assim como na idade do doente e nas suas condições gerais de saúde. O tratamento pode ser quase sempre efetuado no consultório médico ou numa clínica, utilizando anestesia loal. Outras modalidades de tratamento, a considerar caso a caso, incluem: cirurgia micrográfica de Mohs, curetagem e eletrocirurgia, criocirurgia, laser ablativo, terapia fotodinâmica, radioterapia, quimioterapia, determinados medicamentos tópicos, entre outros.
O cancro da pele pode ser grave ou fatal? Sim, o cancro da pele (CP) pode matar, sendo o melanoma maligno a principal causa pelos casos fatais. A boa notícia é que mais de 90% dos CP têm cura, desde que detetados nos estadios iniciais da doença.
Como prevenir ou minimizar o risco de sofrer de cancro da pele? Para minimizar o risco de desenvolvimento de CP, há que aproveitar o sol com sensatez. São conselhos úteis:
- Maximizar as medidas de proteção nas crianças, não expor ao sol bebés com menos de 6 meses e evitar a exposição direta de crianças com menos de 3 anos.
- Procurar a sombra e evitar a exposição solar nas horas de maior calor (11-17h); horas seguras são aquelas em que a nossa sombra é maior do que nós pró
- Proteger a pele e os olhos (chapéu, t-shirt, óculos de sol).
- Habituar gradualmente a pele ao sol. Evitar as queimaduras solares!
- Aplicar protetor solar com um fator de proteção ≥ 30 a cada 2 horas.
- Evitar solá
Pessoas com muitos sinais ou pertencentes ao grupo de indivíduos vulneráveis são aconselhadas a fazer o autoexame da pele uma vez por mês, estando atentas a sinais ou manchas que: sejam Assimétricos, de Bordo irregular, Cor não uniforme, Diâmetro superior a 6 mm ou que sofreram Evolução recente (“regra ABCDE”); pareçam diferentes dos outros (“patinho feio”); provoquem comichão, sangrem ou deitem líquido; tenham aspeto perolado; pareçam uma ferida, mas não cicatrizam.
Caso apresente uma lesão com as características descritas, não hesite em contactar um dermatologista.