Moreira da Silva
A China é o país mais populoso e uma das nações mais antigas do mundo, cujo sistema político era baseado em monarquias hereditárias, as famosas dinastias, que tiveram o seu início por volta do ano 2000 a.C. e terminaram em 1911, quando surge a República da China. Após o fim da Segunda Grande Guerra tem início a Guerra Civil Chinesa, entre 1946 e 1949. O Partido Comunista chega ao poder e proclama, em 1 de outubro de 1949, na Praça de Tiananmen, em Pequim, a República Popular da China.
A partir dessa data, os conflitos começam a ser uma constante, como a campanha violenta de repressão contra elementos da oposição (1950); a Grande Revolução Cultural Proletária (1966); a intervenção militar no Tibete (1950); a ocupação e o fim da independência do Tibete (1951); os massacres do povo tibetano, que lutava pela sua independência (1956, 1959-1962, 1987-1993), com um número indiscriminado de mortes. Em 1989, os blindados do Exército de Libertação do Povo marcharam em direção à Praça de Tiananmen, com o objetivo de esmagar a massa humana, que exteriorizava o desejo de ser implantada a democracia.
A partir de 1978 começaram a ser introduzidas reformas económicas importantes, que transformaram a República Popular da China, numa das economias com o mais rápido crescimento do mundo e numa potência nuclear. No final do século passado foram criadas as Regiões Administrativas Especiais de Hong Kong, que foi uma colónia do Reino Unido até 1997 e de Macau, que foi administrada durante mais de 400 anos por Portugal até 1999.
O massacre ocorrido na Praça de Tiananmen foi uma realidade macabra que aconteceu há pouco mais de 30 anos. Os militares chineses perfuraram com baionetas os manifestantes, enquanto os blindados dispararam contra a multidão e depois passaram por cima dos corpos, o que fizeram várias vezes transformando numa massa, para que os restos mortais de milhares de pessoas fossem apanhados por uma escavadeira, para depois serem incinerados e atirados aos esgotos. A China minimizou ao máximo o massacre e impôs um tabu sobre este acontecimento, o que veio a ser escrupulosamente respeitado pelos governantes de todo o mundo, que ainda hoje assim fazem quando visitam a China: calam-se, vergonhosamente!
O silêncio dos governantes, sobre o hediondo massacre tem tido um reconhecimento por parte dos chineses: o endurecimento da autoridade, o aumento da repressão dos direitos humanos e o exercício da violência desmedida. Desde que Xi Jinging chegou ao poder (2012), a repressão dos direitos humanos tem aumentado, mas os manifestantes pró-democracia têm mostrado que não estão disponíveis para se render às regras e às leis chinesas.
Pelo historial do comportamento violento da governação chinesa teme-se que nos próximos dias vá existir um novo Tiananmen em Hong Kong, onde milhões de manifestantes pró-democracia lutam há doze semanas, desde o início de junho deste ano, contra a lei da extradição e contra a política de “um país, dois sistemas” implantado por Pequim. Neste aumento da tensão contra o controlo chinês, a China recorreu ao argumento da violência, desacatos e infiltrações de agentes provocadores, para deslocar veículos militares e da polícia carregados de especialistas antimotim para Shenzhen, cidade que faz fronteira com a Região Administrativa Especial de Hong Kong, onde o oriente encontra o ocidente.
Um novo Tiananmen em Hong Kong, um dos principais centros financeiros internacionais, desta vez será muito pior do que há 30 anos atrás, não só porque a China vive num regime comunista cruel, mas também porque é uma nação poderosa economicamente, por isso o silêncio covarde das nações de todo o mundo. Não é por acaso que Portugal, que se apregoa ser o paladino da liberdade e da democracia, celebrou 17 acordos com a China este ano. É o poderio da economia a subjugar a política!