Raquel Evangelina
«Naquela altura, mais precisamente no dia 9 de setembro de 1977, os comboios da linha Póvoa de Varzim-Porto (Trindade) ainda eram movidos a carvão e foi num deles que se iniciou, nessa data, a minha longa viagem ao País dos Sovietes. […] A mala era leve porque, além de não haver dinheiro para mais, eu estava convencido de que não se ia para o Paraíso Terrestre com a casa às costas, porque nesse lugar não costuma faltar nada, à exceção do pecado. Sim, eu ia viver na sociedade quase perfeita, na transição do socialismo desenvolvido para o comunismo.» É assim a sinopse do livro “As minhas aventuras no país dos sovietes” de José Milhazes que adquiri recentemente.
Tendo em conta o meu interesse sobre a política externa russa andei à procura de livros que me ajudassem a compreender melhor a Rússia no tempo glorioso da URSS. E “esbarrei-me” com esta obra do jornalista português que viveu na URSS. Escrito em jeito de diário o jornalista relata a sua adaptação e todo o ambiente que a Rússia vivia no regime soviético (e as suas limitações).
Numa parte inicial fala sobre a infância e as decisões que levaram a que se juntasse ao Partido Comunista Português e posteriormente fosse estudar para a Universidade na URSS.
Aborda a sua vida enquanto cidadão português na URSS e todas as diferenças entre o país de origem e o que o acolheu, incluindo as dificuldades que tinha até em tarefas simples, como conseguir comprar comida. Relata ainda como surgiu a oportunidade de se tornar jornalista correspondente em Moscovo. De salientar que José Milhazes viveu de perto a sociedade durante a URSS, a Tragédia de Chernobyl, a Queda do Muro de Berlim, entre outros acontecimentos.
Um livro escrito de forma jornalística, arriscaria até em jeito jornalismo de viagens, em que de uma forma corrida e simples nos é passada bastante informação sobre os principais acontecimentos que o jornalista viveu de perto.
Uma forma de transmitir aos leigos como nós as mudanças que ocorreram e de nos dar uma ideia da forma como a sociedade vivia e viveu aqueles anos. Não só a pertencente à URSS como também a internacional, tendo em conta a importância que colapso de uma super potência como aquela representava na ordem mundial.
Definitivamente uma leitura pertinente a quem tem interesse em saber mais sobre uma sociedade tão fechada e cheia de mistérios.