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Saúde e Vida

MOLUSCO CONTAGIOSO – UMA DOENÇA DAS CRIANÇAS, E NÃO SÓ!

Paulo Morais

Médico dermatologista no Trofa Saúde Hospital em Alfena (Valongo) e Senhor do Bonfim (Vila do Conde), Clínica Fisioskin (Porto), Hospital da Luz Clínica de Amarante (Amarante), Ponte Saúde (Amarante), Excelis Saúde (Lamego).

 

Já ouviu falar em molusco contagioso? O nome pode parecer estranho e nada tem a ver com amêijoas, lulas ou polvos, famosos invertebrados aquáticos e gastronómicos. A infeção pelo molusco contagioso é uma doença cutânea com aspeto similar às verrugas ou ao herpes, talvez pouco popular, mas bastante comum.

O que é? O molusco contagioso (MC) é uma infeção vírica causado por um Poxvirus (vírus Molluscum contagiosum), comum em crianças em idade escolar, sobretudo nas que têm eczema atópico, embora por vezes possa ocorrer em adultos (especialmente na região genital).

Como se manifesta? A infeção pelo MC carateriza-se pelo aparecimento de pequenas pápulas com centro deprimido ou hiperqueratósico (acumulação de queratina), da cor da pele, rosadas ou amareladas, que podem ter o tamanho de uma cabeça de alfinete até alguns milímetros (em média 2-5 mm). As lesões podem atingir qualquer local (exceto as palmas e as plantas), incluindo a face, tronco, membros e área ano-genital, em número variável (até dezenas de lesões). As lesões são indolores, embora possam causar comichão, e não há sintomas sistémicos. Em doentes imunodeprimidos as lesões podem ser gigantes (> 15 mm), ter um aspeto diferente do habitual e ser refratárias aos tratamentos convencionais.

Como se contrai a infeção? A transmissão ocorre por contato direto pele-com-pele, incluindo o contacto sexual, ou pelo contato indireto da pele com fómites, como roupa interior, toalhas ou outros objetos contaminados (lâminas de barbear, esponjas, boias ou equipamento de ginásio). É habitual o contágio em ambientes húmidos como piscinas ou balneários. A autoinoculação (ou seja, o auto-contágio após coçar as lesões) é comum. O período de incubação pode variar de 2 a 6 semanas.

É um problema grave? Os MC não têm qualquer gravidade ou impacto na saúde geral da criança nem é uma doença de evicção escolar obrigatória. Mas pode causar comichão e as lesões podem espalhar-se, infetar ou deixar cicatriz. Havendo a suspeita de transmissão sexual, especialmente em adultos, devem ser rastreadas outras doenças sexualmente transmissíveis e os parceiros sexuais devem ser também tratados.

A doença deve ser sempre tratada? Quais as abordagens possíveis? Em pessoas saudáveis pode não se efetuar qualquer tratamento (as lesões podem desaparecer espontaneamente em 6 meses a 4 anos). O tratamento está indicado em doentes com eczema atópico, na presença de lesões visíveis ou na área ano-genital e para evitar a transmissão e a autoinoculação. As principais linhas de tratamento são as que se seguem: curetagem/raspagem (após aplicação de creme anestésico), aplicação de produtos corrosivos ou irritativos (ex: hidróxido de potássio, cantaridina, podofilotoxina, ácido salicílico, tretinoína), crioterapia com azoto líquido, laserterapia, imiquimod tópico ou cimetidina oral. Após o tratamento podem observar-se pequenas cicatrizes ou manchas nos locais tratados. Em adultos sexualmente ativos com lesões na região perineal, genital, supra-púbica e perianal devem despistar-se outras doenças venéreas concomitantes. Em doentes com lesões faciais atípicas, volumosas ou aglomeradas, deve-se considerar o despiste de infeção pelo VIH.

A doença pode reaparecer? A criança não fica imune à doença. As lesões podem voltar caso fiquem por tratar ou a criança tenha contacto novamente com pessoas ou objetos infetados. Se surgirem novas lesões estas devem ser tratadas.

Como reduzir o contágio? Deve-se evitar o contacto direto com pele contaminada. Recomenda-se que as zonas afetadas estejam cobertas com roupas ou pensos e se evite a partilha de roupa e objetos contaminados. Não se devem barbear nem depilar as áreas com lesões.

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