Isabel Pinto da Costa
Todos os dias sou confrontada nas consultas, nas minhas reflexões pessoais, se ter um, dois, três ou mais amigos são suficientes e quem podemos considerar como os nossos amigos! Ao longo destes meus vinte e três anos de consulta psicológica e na minha vida pessoal respondo sempre que a quantidade não é importante, só têm que ter em conta que amigo tem que ser aquela pessoa que nós consideramos como o outro significativo, como a nossa referência afetiva, aquela pessoa que nos vem logo ao pensamento quando estamos a viver alguma coisa especial ou uma circunstância de vida menos boa.
O melhor amigo pode estar do outro lado do mundo, mas é aquela pessoa que sentimos tão próxima que até parece que nos toca! No dia em que sentirem alguém assim, encontraram o vosso melhor amigo, encontraram o outro significativo!
O melhor amigo pertence a todas as faixas etárias, sim, porque a partilha começa logo na infância, prolonga-se pela adolescência, vida adulta e vai até à 3ª idade. O amigo assume assim diferentes formas durante as diferentes fases do nosso desenvolvimento: por exemplo, na infância, é aquele com quem partilhamos o lanche no recreio, o primeiro a saber da nossa paixoneta, o que imitamos no vestir, o que estamos ansiosos que chegue a segunda para tocar os cromos de futebol ou brincar com a melhor boneca….
O melhor amigo na adolescência é a pessoa com quem nós partilhamos as mudanças no nosso corpo, os nossos sonhos, é quem nos ajuda a estabilizar muitas vezes a relação com as figuras parentais, pois é típico, nestas idades, existirem relacionamentos conflituosos! É a figura que nós projetamos como aquele que nos vai acompanhar para o resto da nossa vida, que irá fazer aquela viagem connosco, que irá para a faculdade connosco, que nos irá acompanhar sempre, que nunca mais sairá da nossa vida…
Na idade adulta, o melhor amigo é aquela pessoa que é nosso confidente, aquele ou aquela a quem podemos contar quando o “nosso mundo mais íntimo está prestes a cair!”, para utilizar uma expressão do senso comum.
Na terceira idade, um amigo é uma pessoa que demonstra disponibilidade para nos ouvir e para nos dar afetos.
Esta figura do melhor amigo é sem dúvida muito importante e passa de geração em geração e o ditado popular diz que “Quem tem um amigo tem tudo!” E é verdade, e, às vezes, ele está tão perto e nós nem reparamos, o que é injusto com esse grande amigo!
Nunca me vou esquecer, andava eu no 9º ano, e entrou uma colega nova para a minha turma, chamava-se Cristiana. Logo me apresentei e, de seguida, prontifiquei-me para lhe apresentar os meus amigos todos. Ela chegou ao fim do dia muito aflita e disse-me: “Isabel, tens de parar, eu não consigo conhecer mais amigos, já me apresentaste tantos! Como consegues ter tantos amigos? Eu respondi: Sabes o tamanho do teu coração? Ela respondeu não! Então não deves rejeitar nenhum amigo enquanto couber no teu coração, deixa todos eles entrarem.
Por isso, acreditem, enquanto o vosso coração tiver espaço, deixem entrar todos os melhores amigos porque eles fazem falta nos vossos corações.