Moreira da Silva
Nas eleições legislativas 2019, a abstenção atingiu um valor recorde de 45,5%, mais do que verificado nas eleições legislativas anteriores (44,1%) e muito inferior ao verificado nas eleições europeias 2019 (69%). No passado dia 6 de outubro foram muitos os portugueses que não quiseram ser representados na Assembleia da República e optaram por não ir votar (4,3 milhões) ou votaram em branco (130 mil) ou votaram nulo (89 mil).
O nível que a abstenção atingiu é preocupante e deveria obrigar todos os agentes políticos a repensar o nosso sistema eleitoral, pois foi elevado o número de portugueses que não quis colocar uma cruz no boletim de voto, quando havia o número recorde de opções (21), entre partidos, coligações ou movimentos, que se apresentaram às eleições. O apelo ao voto, feito pelas diversas candidaturas, embora tenha sido muito forte na campanha eleitoral, também não originou o efeito desejado.
A abstenção continua a bater recordes e exige reflexões profundas, para que não se coloque em causa os resultados eleitorais e os eleitos, pois ela é a marca da maioria silenciosa, que se sente insatisfeita e indignada, pelo tipo de políticos que temos. Provavelmente, os dirigentes políticos e partidários estão muito mais preocupados em ganhar as eleições, para se sentarem na cadeira do poder, do que saber se essas pessoas que utilizam a abstenção como arma de protesto, se sentem marginalizadas ou incompreendidas.
A maioria silenciosa faz muito barulho, como se tem verificado através do número elevado de abstencionistas nos diferentes atos eleitorais e se manifestou com estrondo nestas últimas eleições legislativas. No ato eleitoral realizado no passado domingo, dia 6 de outubro, quase metade do eleitorado, que é um valor exagerado e preocupante, absteve-se ou votou branco ou nulo.
É verdade que a abstenção não é uma característica típica das eleições em Portugal, pois também se verificam taxas de absentismo muito elevadas, por quase todo o mundo, onde há eleições verdadeiramente democráticas. Só alguns governantes de países onde não há democracia é que querem dar ao mundo um ar de democratas e realizam eleições, com resultados fabricados com taxas de absentismo muito reduzidas.
O nosso país está a precisar, com urgência, de reformas estruturais profundas em diversas áreas, que não se fazem há muitos anos, porque a classe política que tem sido eleita tem sido de uma pobreza confrangedora. Embora a abstenção e o voto em branco ou nulo também seja uma forma de exprimir uma opinião, nas ditas reformas estruturais necessárias deve estar a reforma do sistema político e eleitoral, que é praticamente o mesmo desde a restauração da democracia, para que seja possível, os partidos políticos e a assembleia da república recuperarem o prestígio perdido ao longo dos tempos, principalmente nos últimos anos.