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Cidadania e Sociedade

O VOTO REATIVO ESTÁ A SER MUITO UTILIZADO

Moreira da Silva

Os mecanismos que estão por trás da escolha de um eleitor são cada vez mais estudados pela Ciência Política e estão identificados diversos tipos de voto, que vão desde o voto ideológico até ao voto estratégico. Nos últimos tempos, em todo o mundo, tem sido utilizado pelos eleitores o voto reativo, que se tem intrometido e até desviado muitos votos ao voto ideológico, mesmo em partidos que pensavam ter como seguro o seu eleitorado e também por isso é que os partidos extremistas se têm agigantado.

O voto reativo tem muitas vezes a ver com situações concretas que afetam as pessoas no seu quotidiano ou nos casos em que o partido a quem emprestavam o seu voto se ter comportado de uma forma com a qual não concordaram. Bolsonaro foi eleito Presidente do Brasil pelos dois motivos: porque o eleitorado reagiu mal à governação anterior do Partido Trabalhista, que inundou o país de casos graves de corrupção; mas também pela situação da insegurança em que o país vivia, e ainda vive.

O voto reativo está a ser muito utilizado também em França, onde um quarto do eleitorado vota na “União Nacional” de Marine Le Pen, de extrema direita, porque uma parte significativa dos franceses reage muito mal às políticas económicas e imigratórias, que estão a ser implementadas pelo governo francês. O movimento de extrema direita “Liga Itália” tem crescido, porque é anti euro e também porque abraçou a causa dos italianos, que têm reagido mal à política social, económica e de imigração do seu país.

Os alemães de leste estão a reagir mal à situação em que se encontram, pois cerca de 60% sentem-se alemães de 2ª, por isso o partido da extrema direita “Alternativa para a Alemanha” continua a crescer, principalmente nessa zona do país. Em Espanha, o partido “VOX” da extrema direita também tem “engordado”, porque tem conseguido capitalizar o voto dos descontes da política de imigração e da má gestão dos processos autonómicos.

A Inglaterra, com as suas políticas contra a integração europeia e de imigração acicatou os desejos autonómicos dos escoceses e dos irlandeses, mas também fortaleceu os partidos da extrema direita. Por toda a Europa, com exceção de Malta, Irlanda e Luxemburgo, os parlamentos têm representações de partidos da extrema direita, que cresceram muito no Parlamento Europeu e até estiveram recentemente na governação (Itália e Finlândia) ou estão a governar em coligação (Áustria, Letónia, Eslováquia e Bulgária) ou a governar sozinhos (Polónia, Hungria e República Checa).

O parlamento português tinha sido poupado ao retorno da extrema direita, só que muitos portugueses utilizaram o voto reativo e votaram no “Chega”, um partido de extrema direita, que cresceu graças à oposição frouxa que os partidos políticos de direita fizeram ao governo “geringonçado”. Mas também muitos eleitores comunistas alentejanos e de outras regiões utilizaram o voto reativo e escolheram votar na extrema direita, como forma de protesto pelo “seu” partido ser um dos partidos que suportou a “Geringonça”.

Em Portugal, quer os comunistas quer os bloquistas também utilizaram e utilizam o voto reativo para apoiar o governo “geringonçado”, com medo que ele caia e a direita chegue ao poder e sejam penalizados por isso. Como foi o que que aconteceu aos comunistas quando votaram ao lado da direita, para chumbar o Plano de Estabilidade e Crescimento (PEC4) apresentado pelo governo socialista (abril de 2011), só que nas eleições seguintes (junho de 2011) foi fortemente penalizado pelo “seu” eleitorado.

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