Rui Canossa
O índice de bem-estar é um indicador que integra uma grande variedade de indicadores simples para avaliar a qualidade de vida e satisfação das famílias. Este indicador é composto por duas perspetivas analíticas: Condições materiais de vida e Qualidade de vida. Nas condições materiais de vida incluem-se o bem-estar económico, vulnerabilidade económica, trabalho e remuneração. No que concerne à qualidade de vida incluem-se aspetos como a saúde, o balanço vida-trabalho, educação, conhecimento e competências, relações sociais e bem-estar subjetivo, participação cívica e governação, segurança pessoal e ambiente. Cada um destes 10 domínios inclui um conjunto de indicadores, num total de 79 indicadores de base, sendo cada um deles transformado em índice e posteriormente agregados por domínio.
Mas afinal vive-se melhor em Portugal? Os dados apontam para um novo crescimento do IBE, explicado pela melhoria continuada na Qualidade de vida e pela melhoria recente das Condições materiais de vida. Em 2015, o índice de Bem-estar atingiu 117,9, continuando a recuperação iniciada em 2013.
Entre 2004 e 2015 a taxa de variação média anual do Índice de Bem-estar foi de 1,5%. Esta evolução ao longo da última década deveu-se exclusivamente aos progressos verificados na perspetiva da Qualidade de vida.
De facto, o Índice de Bem-estar em Portugal evoluiu positivamente entre 2004 e 2011, atingindo o valor de 108,6 em 2011. Em 2012 reduziu-se para 107,7, tendo recuperado no ano seguinte, atingindo 117,9 em 2015. Em 2017, último ano disponível, estima-se que fique acima dos 130.
Ao longo da última década, as duas perspetivas de análise do bem-estar – traduzidas através dos índices sintéticos de Condições materiais de vida e de Qualidade de vida – evoluíram em sentidos opostos: enquanto o índice que explica a evolução das Condições materiais de vida registou uma evolução negativa, atingindo o valor de 83,3 em 2013 (2004 = 100), o índice relativo à evolução da Qualidade de vida apresentou uma evolução continuamente positiva, atingindo em 2015 o valor de 130,6.
O índice relativo às Condições materiais de vida, depois, do (contínuo) agravamento ao longo de cerca de 10 anos, que implicou uma desvalorização de 16,7 pontos percentuais entre 2004 e 2013 − devida à forte correlação entre muitas das variáveis que compõem este indicador sintético e o desempenho económico − apresentou acréscimos a partir de 2014.
A análise da evolução nos períodos 2004-2008 (pré-crise) e 2008-2015, evidencia que à quebra de 4,1 pontos percentuais registada no índice das Condições materiais de vida no primeiro período referido (−1%/ano), se seguiu uma quebra mais acentuada de 7,6 pontos percentuais no período 2008-2015 (−2%/ano).
Por sua vez, na perspetiva da Qualidade de vida, à evolução positiva entre 2004 e 2008 explicada por uma variação total de 8,9 pontos percentuais (+2,2%/ano), seguiu-se uma evolução também positiva no período 2008-2015 de 21,7 p.p. (+2,6%/ano), estimando-se, assim, que, em 2016, o Índice Qualidade de vida se situe cerca de 37,4 pontos percentuais acima do nível verificado em 2004.
Os resultados obtidos advêm de evoluções diferenciadas ao nível dos domínios que alicerçam as duas perspetivas consideradas: para a evolução das Condições materiais de vida contribuiu positivamente o comportamento do domínio do Bem-estar económico, o qual atinge um índice de 108,4 no ano 2009 reduzindo-se de 2010 até 2012 e crescendo a partir desse ano. O acréscimo projetado de 9,8 pontos percentuais no domínio do Bem-estar económico ocorrido entre 2004 e 2016 não foi, contudo, suficiente para evitar o decréscimo do índice agregado das Condições materiais de vida, dada a forte descida ocorrida nos outros dois domínios – Vulnerabilidade económica e Trabalho e remuneração.
Em praticamente todos os anos desde 2006, verificou-se um agravamento do índice relativo à Vulnerabilidade económica, atingindo o valor mínimo em 2013: 76,01. O índice tem vindo a crescer a partir desse ano, estimando-se que esse crescimento prossiga em 2016, atingindo um valor de 89,9. No cômputo global do período em análise (2004 2015), em comparação com o ano base, observou-se uma variação de −16,7 pontos percentuais.
O domínio Trabalho e remuneração concorreu de forma significativa para a descida do índice sintético de Condições materiais de vida com um decréscimo de 26,3 pontos percentuais entre 2004 e 2015. No entanto, tal como sucedeu com o domínio da Vulnerabilidade económica, o índice respetivo, após ter atingido um valor mínimo em 2013 (70,0), cresceu nos anos seguintes, projetando-se novo crescimento para 2016.
Em suma, estamos melhor mas, depende. Se consideramos que o IBE tem vindo a aumentar isso é bom, devido à componente da Qualidade de vida, mas, por outro lado, se analisarmos as Condições materiais de vida estamos pior.