Carla Guimarães Cardoso
A laringe é uma estrutura tubular compreendida entre a faringe e a traqueia. É constituída maioritariamente por cartilagem e pode ser dividida em três andares: a supra-glote, a glote e a subglote. É na glote que se encontram as cordas vocais. Estas unem-se na linha média quando queremos falar ou quando engolimos e separam-se quando respiramos.
Este órgão tem como principais funções a protecção dos pulmões, funciona como válvula que encerra para impedir a entrada de corpos estranhos na traqueia, e a fonação ou seja a produção de voz. Tendo em conta estas funções toda a patologia que atinge a laringe tem um impacto profundo no dia a dia do doente e sua qualidade de vida podendo, inclusive, por em risco a própria vida. Este impacto é tanto maior quanto a gravidade e a agressividade da patologia. Como expoente máximo temos os tumores malignos da laringe.
Um tumor maligno é no fundo um crescimento incontrolável de células que invadem e destroem os tecidos saudáveis. Os tumores diferem de acordo com o tipo de célula que os originou. No caso da laringe a grande maioria dos tumores são do tipo espinocelular.
A laringe é a 2ª localização mais frequente dos tumores malignos da cabeça e pescoço e tem uma incidência de 3 casos em cada 100000 habitantes.
Os tumores da laringe atingem em 60% dos casos o andar glótico, 35% o supra-glótico e os restantes o andar subglótico. A localização é um factor importante uma vez que esta vai fazer variar os sintomas que o doente apresenta. Assim, os tumores do andar glótico são os que mais cedo produzem sintomas uma vez que atingem as cordas vocais provocando rouquidão. Os restantes, supraglóticos e subglóticos podem não provocar sintomas até uma fase tardia em que o crescimento do tumor já é acentuado. Os sintomas mais típicos provocados por tumores com esta localização são dor de garganta, dificuldade em engolir, sensação de corpo estranho ou tosse sem melhorias, dor de ouvido, falta de ar, ruído ao respirar, tosse com sangue, tumefacção no pescoço, perda de peso.
O carcinoma espinocelular (o tumor mais frequente da laringe com uma incidência de 90%) atinge principalmente homens entre os 50 e os 60 anos. Este tumor tem uma estreita relação com o tabaco e o álcool. Estima-se que um fumador tenha um risco de carcinoma da laringe 10 vezes superior a um não fumador. O consumo abusivo de álcool aumenta este risco em 5 vezes. Quando associados o álcool e tabaco aumentam o risco em 35 vezes relativamente a quem não fume e não beba bebidas alcoólicas.
Para além destes são também factores de risco a infecção por HPV (o vírus da papilomatose), a idade, o refluxo gastro-laríngeo e a exposição a irritantes.
Como em toda a patologia tumoral o diagnóstico precoce é sinónimo de melhor probabilidade de controlo da doença.
Assim, uma rouquidão com mais de 2 semanas de evolução, ou qualquer outro dos sintomas referidos acima, principalmente em fumadores deve ser sempre avaliada por otorrinolaringologia. Caso haja suspeita o estudo é complementado com exames de imagem e realização de uma biópsia. Esta última permite confirmar, ou não o diagnóstico, e caracterizar o tipo de tumor. Os exames de imagem permitem avaliar a extensão do tumor.
Com estes dados é possível definir, sempre em reunião multidisciplinar, isto é com a presença de várias especialidades, uma estratégia de tratamento. Este pode passar por cirurgia, radioterapia ou quimioterapia. Estas podem ser feitas isoladamente ou em diferentes combinações.
Nos casos em que o diagnóstico é feito precocemente (tumores mais pequenos sem extensão a outros órgãos) o tratamento cura, em média, 80% dos doentes. No caso dos tumores avançados este valor desce para os 40%. Estes valores são inferiores no caso dos doentes que continuam a fumar. É assim de extrema importância o diagnóstico precoce dos tumores malignos da laringe.