Ontem celebrou-se o Dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra as Mulheres e aproveitei o mote para o tema da crónica que se segue. Não vou falar sobre este assunto, não sou a pessoa mais conhecedora para o comentar e não tenho propriamente algo de muito relevante que seja pertinente partilhar convosco sobre o mesmo. Mas para mim homem que bate numa mulher perde toda a minha consideração. É uma pessoa que não vale nada. E todo aquele que o faz não gosta da mulher, de nenhuma. E isto leva-me a uma das minhas leituras recentes, a trilogia sueca Millennium, que também retrata homens que não gostam de mulheres, aliás o título do primeiro volume é mesmo “Os Homens que odeiam as Mulheres.”
Esta trilogia é obra do autor sueco, já falecido, Stieg Larsson. O primeiro livro começa por nos apresentar um jornalista Mikael Bloomkvist que é contratado, graças ao seu trabalho em investigação, para resolver o mistério de uma suposta morte numa família que decididamente não gosta de mulheres. Pelo caminho a investigação irá uni-lo a Lisbeth Salander, uma hacker informática que faz parte das mulheres odiadas pelos homens. Na segunda parte desta obra Lisbeth mete-se em complicações porque de facto os homens e a sociedade em geral não gostam dela e terá que ser Mikael a ajudá-la. No terceiro livro vemos como acabam os esforços que os personagens fizeram ao longo da segunda obra.O site da wook propõe-nos uma sinopse das 3 obras juntas que diz o seguinte: “Esqueça os 80 milhões de exemplares vendidos da Trilogia Millennium em todo o mundo. Esqueça as listas de best-sellers em Copenhaga, Estocolmo, Frankfurt, Nova Iorque, Oslo, Paris, Reino Unido ou Roma entre muitas outras. Esqueça rótulos como saga familiar, literatura policial, thriller financeiro ou história de amor. Esqueça tudo e comece a ler. Conheça o inconformismo de um jornalista caído em desgraça e a irreverência de uma hacker com uma inteligência acima da média e uma completa incapacidade de se relacionar com os outros. Saiba como esta dupla improvável se encontra e une esforços numa cruzada contra forças poderosas. Verá que esta Trilogia é uma obra extraordinária de um extraordinário escritor. Verá que as horas passam sem se dar conta e é muito provável que a madrugada o surpreenda ainda a ler. Tenha cuidado, corre um sério risco de insónia! Nós avisámos..”
E eu não podia estar mais de acordo. Quando comecei a ler a saga já tinha visto a adaptação dos livros em 3 filmes suecos. Já tinha visto a adaptação americana que fizeram do primeiro livro com o Daniel Craig. Posto isto os livros iam em desvantagem para me surpreender. Já sabia o que tinha acontecido com a Harriet Vanger, já sabia os vilões, os bonzinhos e os assim-assim. Já sabia que justiças tinham sido feitas e que não precisaria de ficar aflita quando achei que alguém morria porque sobreviveu. Os livros iam mesmo em desvantagem… Achava eu.
Os livros em edição de bolso têm cerca de 600 páginas. Livros esses que li em 2/3 dias no máximo. Podia ter sido em menos tempo mas não me pagam para ler, logo uma pessoa tem que fazer outras coisas. Senti medo, frustração, fiquei indignada com as injustiças. Não conseguia parar, dizia a mim mesma só mais um capítulo e acabava com mais quatro ou cinco e a ter que conformar-me que tinha que parar para dormir. Stieg Larsson conseguiu com esta crítica à Suécia dos dias de hoje, ao poder desmedido de quem tem dinheiro, ao estigma com pessoas socialmente inaptas e diferentes, e a este louvor ao trabalho do jornalismo de investigação criar uma narrativa tão viciante que é impossível parar.
Infelizmente o autor faleceu em 2004. Ainda nem sequer tinha sido publicada nenhuma das obras. Estava a escrever um 4º volume. Atualmente já são 6 sendo que quem ficou encarregue de continuar foi David Lagercrant. Ainda não li, não sei se conseguirá ser tão cativante mas confesso que estou ansiosa. Foi de facto uma obra que quando terminei pensei. “Então e agora? Vou ler o quê?” Deixa um vazio literário e uma fasquia elevada para a leitura em que embarcarmos a seguir.
Utilizo esta crónica então para vos recomendar esta trilogia a quem ainda não teve o prazer de a ler. A quem gosta muito de ler, a quem gosta mais ou menos e até a quem não gosta, quem sabe não é o Stieg que os põe a gostar? A todos os homens que odeiam as mulheres fazia bem ler, às mulheres que odeiam os homens também e até aos que gostam de toda a gente independentemente do género. E porque não este natal colocar os “Homens que odeiam as mulheres” num sapatinho? Fica a sugestão… E votos de boas leituras.