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BIJAGÓS- UM ARQUIPÉLAGO ULTRAPERIFÉRICO

Joana Benzinho

São 88 as ilhas do Arquipélago dos Bijagós, na Guiné-Bissau. Neste conjunto, declarado pela UNESCO reserva da biosfera, rondam a vintena as que são habitadas e apenas duas delas estão ligadas à parte continental por barcos de carreira de forma regular e com condições mínimas de segurança, segundo os padrões internacionais. Não é fácil ser ilhéu, as limitações são sempre mais acentuadas relativamente aos continentais. Mas na Guiné-Bissau as dificuldades são verdadeiramente maiores. São aliás conhecidos os acidentes no mar que infelizmente têm marcado a história da sinistralidade do país, com vários mortos.


A única forma de sair das ilhas mais remotas é em pirogas mais pequenas ou canoas um pouco mais encorpadas e com maior capacidade, que oferecem uma falsa sensação de segurança.

Mesmo no caso das ilhas servidas por um serviço permanente, navega-se quando não há avarias ou percalços. E o barco, neste arquipélago, serve para dar resposta às necessidades mais simples: procurar um centro de saúde onde haja um enfermeiro, um médico, ou tão só o direito a ir à escola.

No final do ano, de passagem pela ilha de Orango, testemunhei mais uma vez esta realidade que me deixa sempre um sabor acre na boca: esta forma de sobreviver que se manifesta na agilidade com que mais velhos ou mais novos, mulheres de crianças às costas ou jovens de tenra idade carregados com sacos, galinhas ou até um porco ou uma cabra às costas, se atiram à água, se enchem de sal e de mar para apanhar um lugar na embarcação que os guia até outra ilha, até à solução do que lhes falta ou tão simplesmente porque sim. Porque precisam de sair do pedaço de ilha que lhes coube por sorte.


E mais uma vez pensei na minha fragilidade comparada com este povo ao ter tantas vezes medo de viajar sem o colete salva vidas no barco de carreira, por ter receio de saltar do cais para um barco obsoleto que até há pouco servia em Bissau de embarcadouro para o cacilheiro que nos levava até Bolama, por ficar receosa por ver que as amplitudes das marés por vezes nos obrigam a grandes acrobacias para deslizar do barco até terra firme. Eu, confessadamente em pânico, enquanto eles, os guineenses, parecem planar de um lado ao outro de sorriso nos lábios, alegremente resignados à sorte de ilhéus que lhes coube.

Imponente, esta forma digna de sobre(viver)!

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