Joana Benzinho
A Guiné-Bissau não arreda pé das chamadas de capa de jornais e dos telejornais nos últimos meses. Desta vez não é nenhum golpe militar, nenhum presidente morreu, nem houve nenhuma guerra civil. Agora, e desde há quatro anos, o problema é o difícil funcionamento das instituições democráticas do país. Ouvi uma vez um diálogo entre dois guineenses em Casablanaca, enquanto aguardávamos a saída do voo com destino a Bissau, em que diziam convictos que a pior coisa que os portugueses fizeram na Guiné-Bissau foi deixar o regime semipresidencialista, pois não é possível haver dois guineenses a mandar na mesma casa. Talvez seja esse o problema, mas não vou aprofundar agora essa questão. A outros caberá fazer essa análise, começando pela própria classe política do país.
O que me traz aqui hoje é lembrar que a Guiné-Bissau é mais que isto. Muito mais que isto. E é preciso mostrá-lo.
A Guiné-Bissau é um país com quase dois milhões de habitantes que todos os dias acordam com projetos e sonhos para concretizar e quase uma centena de ilhas que a UNESCO declarou como Reserva da Biosfera e Património da Humanidade . É um país que tem um caju de qualidade superior, cobiçado pelos grandes transformadores mundiais deste produto e que representa o grosso da economia nacional . Tem fruta em abundância e com um sabor único que, a ser exportada, marcaria com toda a certeza pontos no mercado internacional como a manga, a papaia ou o ananás. Tem uma fauna e uma flora únicas, dignas de entrar nas rotas do turismo mais exclusivo e especializado.
Mas tem também recursos haliêuticos abundantes, com uma zona económica exclusiva que lhes deveria proporcionar ganhos dignos de registo, tivessem eles possibilidade de os pescar, certificar e vender diretamente sem ter que passar pela certificação dos vizinhos senegaleses.
Tem também gente de muito valor. Quadros superiores espalhados pelo mundo, na maioria das vezes por falta de oportunidades dentro de portas, mas que pensam e sonham diariamente com umaGuiné-Bissau melhor para todos e onde poderão ter um papel crucial para o fortalecimento das instituições e muito em especial dos setores da saúde ou da educação.
É esta Guiné-Bissau de oportunidades, de recursos económicos naturais únicos, de gente boa que precisa de sair das fronteiras geográficas do país e chegar até cá, a este lado que muitas vezes só conhece o país pelo que lê no papel do jornal ou vê na imagem da televisão.
É esta Guiné-Bissau das belezas naturais, da sociedade civil que vive e resiste mesmo quando a politica teima em parar o país, que tem que poder mostrar o que vale e o que faz pela Guiné-Bissau. Faz dela um país único a visitar. E a voltar sempre. Quem lá vai uma vez, raramente não repete. Porque a Guiné-Bissau vale mesmo a pena.