Isabel Madureira
A perturbação da hiperatividade e défice de atenção, segundo o Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais, DSM-5, da Associação Americana de Psiquiatria, é uma perturbação do neurodesenvolvimento mais frequente na infância e, em muitos casos, persiste na idade adulta. Trata-se de uma patologia complexa com grande impacto no individuo, família e sociedade.
A PHDA é essencialmente caracterizada e identificada pela presença dos seguintes sintomas: défice de atenção, hiperatividade e impulsividade.
Na presença destes sintomas, há outros que se lhe associam, como: a pouca eficácia na resolução de tarefas, insucesso académico e profissional, baixa tolerância à frustração, baixa autoestima e isolamento social.
Existem três tipos de hiperatividade:
Desatento – apresenta dificuldades em prestar atenção e manter a concentração em assuntos que considera pouco interessantes, não presta atenção aos pormenores ou comete erros por descuido nas tarefas escolares, parece não ouvir o que se lhe diz diretamente, não segue instruções e raramente termina tarefas, apresenta repugnância em envolver-se em algo que exige esforço mental, distrai-se facilmente com estímulos irrelevantes.
Hiperativo e impulsivo – movimenta excessivamente as mãos e os pés e move-se com frequência quando se encontra sentado, levanta-se na sala de aula ou em outras situações em que é suposto estar sentado, fala em excesso e com pouca coerência, saltando de uns assuntos para outros, precipita as respostas sem deixar acabar as perguntas, apresenta dificuldades em esperar pela sua vez, interrompe e interfere nas atividades dos outros e, quando contrariado, reage impulsivamente e com agressividade.
Desatento e hiperativo – é o mais comum. A criança apresenta simultaneamente desatenção, hiperatividade e impulsividade.
Quando a criança se enquadra num destes três tipos, ou seja, apresenta sintomas evidentes, devem os pais ou professores procurar ajuda. É urgente relembrar que o diagnóstico não aparece apenas pela pressão/queixas dos pais e/ou professores. A hiperatividade é uma condição neurobiológica e não uma perturbação do comportamento com se pensava até há pouco tempo. Sendo uma condição desta natureza, envolve disfunções de várias regiões específicas do sistema nervoso central e nunca será um distúrbio benigno, contrariamente ao que alguns querem fazer crer. O pensamento mais óbvio é que a criança, que apresenta os sintomas que referi anteriormente, é mal-educada e revela ausência de regras de bom comportamento quer em casa, quer na escola.
As disfunções cerebrais associadas à PHDA comprometem áreas importantes como a linguagem, atenção, controlo motor e comprometem várias atividades da vida diária com enorme impacto no individuo.
Normalmente, associam-se à PHDA o insucesso académico, problemas de aprendizagem específicos, comportamento de oposição e desafio, agressividade, abuso de substâncias, depressão, ansiedade, acidentes de todos os tipos, distúrbios da personalidade, criminalidade, doenças infecciosas, gravidezes precoces, divórcio parental e do paciente no futuro, entre muitas outras.
Na ausência de dúvidas relativamente ao diagnóstico, convém apresentar ferramentas/estratégias para os pais e professores desenvolverem um trabalho profícuo e eficaz com estas crianças. A intervenção terá naturalmente de ser multidisciplinar e todos os intervenientes no processo têm de trabalhar em equipa para contribuir para o melhor funcionamento/desenvolvimento da criança.
A intervenção farmacológica apresenta bons resultados, pois os medicamentos usados para o efeito diminuem os sintomas como a impulsividade, a desatenção, a interação social e o desempenho académico.
A terapia cognitivo-comportamental que envolve o trabalho dos psicólogos tem como objetivo reforçar a mudança de comportamento e estimular os hábitos de vida saudáveis.
Como na minha atividade profissional já trabalhei com alunos com PHDA, pude, também eu aprender a lidar com os alunos que apresentavam esta perturbação. Por isso, deixo aqui algumas sugestões para pais e professores que têm este desafio na escola ou em casa. Desde já afirmo que não é uma situação fácil para quem tem de, diariamente, estar/trabalhar com estes alunos.
Estratégias/sugestões para trabalhar com estes alunos:
Sempre que exista uma situação de conflito em casa, na sala de aula ou outros contextos, não entre em stresse, respire fundo e mantenha a calma. Nunca recalque o comportamento apresentado. Deve, calmamente,
falar com o aluno embora pareça que ele não o está a ouvir e retirá-lo imediatamente da zona de conflito. Para que ele saia a bem, distrai-o com estímulos que nada tenham a ver como os que presenciou. O melhor estímulo é falar com ele sobre um assunto que sabe que ele gosta, por exemplo, surpreenda-o com uma pergunta repentina sobre um assunto do seu interesse;
Nunca repreenda o aluno em público, mesmo que pense que ele ultrapassou todos os limites, chame-o à atenção discretamente e só quando ele estiver calmo é que deve falar com ele sobre a situação que gerou aquele conflito. Ajude-o a pensar e responsabilize-o para que aquilo não volte a acontecer;
Faça a diferenciação pedagógica, ou seja, não prepare as mesmas coisas para todos os alunos, pois cada um tem o seu ritmo/estilo de aprendizagem. Divida as tarefas mais complexas em tarefas mais simples e mais curtas, só assim terá a certeza de que o aluno termina a tarefa, caso contrário, não acabará nenhuma;
As instruções deverão ser curtas e apenas uma de cada vez;
Elogie frequentemente o bom comportamento do aluno e valorize os seus
momentos de atenção e concentração;
Atribua responsabilidades a estes alunos, pequenas tarefas como ir buscar as fotocópias, fazer um recado, apagar o quadro, escrever o sumário, etc.. Quando realiza estas tarefas, o aluno sentir-se-á responsável, o que irá aumentar a autoconfiança e a autoestima;
Nunca grite com o aluno, caso o faça, vai aperceber-se que ele consegue gritar ainda mais alto. Por norma, estes alunos são muito sensíveis ao barulho e quando estão num ambiente pouco sossegado, reagem mal a qualquer estímulo, mesmo os mais irrelevantes;
Valorize todos os pequenos passos do aluno, pois para uma criança/ jovem com esta perturbação serão com certeza passos gigantes.
Por último, vale a pena dizer que, trabalhando em equipa, os resultados melhoram substancialmente. A PHDA não é uma dificuldade cognitiva, é sobretudo uma dificuldade de comportamento, não interfere com a capacidade que o aluno tem para aprender, mas sim com a sua disponibilidade para tal. Como referiu Barkley (1998) “A PHDA não é um problema de não saber o que se faz, mas sim de conseguir fazer o que se sabe que deve ser feito”.