«EU ACHO QUE SE DEVE DAR LUGAR AOS NOVOS»
Aos 88 anos, o Sr.Antunes, ainda conduz o seu Renault, apesar de já não o fazer de noite. Conta que a partir dos 80, os reflexos diminuem e “quem disser o contrário mente.”
Homem de fortes convicções, diz que nunca foi de se agarrar aos cargos políticos, daí ter estado apenas 6 anos como presidente da Junta de Freguesia de Gondar, entre 1976 e 1982. Do seu executivo, para além dele, fazia parte o Sr. Alcino de Larim e o Sr. Fonseca.
Orgulha-se de ter iniciado as obras de maior necessidade na sua freguesia: “Para lhe dar um exemplo concreto, na Quintã não existia um fontanário, não havia um lavadouro público, tinham de ir lavar ao Ribeiro de Marãozinho, mas durante 3 ou 4 meses, de Inverno, era impossível lavar naquelas condições, pois ficavam enterrados de água até aos joelhos. Mas muito mais se fez: abriu-se os caminhos de Vilela ao Rio, do Rio à Estrada Pombalina, do Mosteiro à estrada nacional, construiu-se fontanários, ergueu-se cabines de eletricidade, lembrando-me, particularmente, da que foi mandada construir à entrada do Campo de Futebol. Sem ela, a luz elétrica nunca chegaria ao Lugar do Rio”, acrescenta. Referir a construção da nova Ponte de Areias que esteve para não existir nesses moldes, entre outros casos, como o de cortar as curvas entre o lugar da Igreja e Vilela. Neste troço, lembra a amizade que fez com o Senhor Coelho de Codeçoso, o manobrador da máquina que permitiu romper o enorme morro no lugar da Fiveda. Lembra ainda, com orgulho, ter conseguido que o Lagar dos Mouros, ficasse a pertencer à JF Gondar, graças à articulação com a dona Graça do Lugar de Aldeia.
Atendia os fregueses, ao domingo, no fim da missa das 11 horas. Ficava até às 13, 14 horas. “As nossas instalações funcionavam no Salão Paroquial e era lá que recebia as pessoas”.
A atual sede, da Junta de Freguesia, foi a primeira a ser construída no município de Amarante, em 1982. “A única riqueza da JF, após as eleições de 1976, era o seu arquivo. O Sr. Álvaro Ramadas era Presidente da JF e o Sr. Mota, do Rio, o Secretário. Peguei na caixa que me deu, saindo-lhe, de seguida, o fundo. Os livros ficaram desfeitos, em pó. Na casa do Sr. Álvaro Ramadas havia muita humidade e os livros, a maior parte deles, estavam podres”. Refere que se alguém quiser consultar o arquivo da JF Gondar, encontrará um desses livros dentro de um envelope, que tem as folhas todas desfeitas, mas que conseguiu salvar, colocando o motivo no exterior do envelope.
Faça à debilidade do que encontrou, resolveu enviar um ofício ao Presidente da CM de Amarante de então, o Doutor Amadeu Cerqueira Silva, onde escreveu: “a única riqueza que tinha esta Junta era o seu arquivo. Neste momento, metade está podre.” Foi chamado à Câmara onde contou toda a situação. No final da reunião, a garantia era do presidente da câmara: “Esteja descansado, vai ser a primeira sede da Junta de Freguesia a ser construída neste município. Lembro-me muito bem, deu-nos 300 contos”.
A inauguração foi em 1982: “Houve uma festa muito grande que contou com a presença do Governador Civil e do Bispo do Porto, até porque o salão também não havia sido inaugurado. O almoço foi servido no salão paroquial, feito pela Lailai, de Amarante. Um almoço muito requintado”, acrescenta.
Sobre a limitação de mandatos, defende que “se deve dar lugar aos novos. Eu cumpri a minha missão e fui-me embora”. Para além da Junta de Freguesia esteve também na linha da frente da Santa Casa da Misericórdia de Amarante, onde cumpriu dois mandatos: “Nesta passagem, orgulho-me, particularmente, de ter travado a venda do atual Centro de Psiquiatria, no Queimado, em Amarante, a privados. Queriam lá construir prédios”.
Paralelamente à sua vida política, foi também construindo a sua carreira profissional. 42 anos de funcionário público, 18 no Notário e 24 no Registo Predial, ambos a funcionar no Palácio da Justiça, em Amarante. Conta que “tinha hora de entrada, mas não tinha hora de saída. Por vezes, enquanto presidente, tinha de me deslocar à Câmara, 2, 3 vezes. Para se fazer obras, têm de se insistir com os técnicos”, confidencia. Em todas essas saídas se dirigia ao gabinete do conservador, ao Sr. Dr. Pacheco, pedindo autorização, apesar deste já o ter informado de que tinha total liberdade para essas deslocações. Apenas ele e o senhor conservador tinham as chaves da repartição. Chegava a ir trabalhar aos sábados e aos domingos, porque “há um prazo de 15 dias para se dar resposta aos pedidos entrados naquele serviço. Mesmo quando me tinha de deslocar às termas, em Caldelas, por motivos de saúde, tinha, nos dias anteriores, de ficar a trabalhar até de madrugada para não atrasar os trabalhos”.
Uma vida repleta de histórias, algumas das quais ligadas à história de Gondar, de Amarante, e das suas gentes.
Bem haja, Sr. Antunes.