Moreira da Silva
Há cerca de dois anos dei por mim a pensar na vida, como faço tantas vezes, e escrevi uma crónica para a “BIRD Magazine” com o título “Via a vida!”, que pretendia ser um hino à alegria de andar por cá e usufruir de imensas coisas boas que a vida nos oferece todos os dias. Hoje dei por mim na mesma situação e decidi revisitar essa crónica, pois estamos em vias de uns os decidirem por muitos, sem estarem mandatados nem legitimados para o fazer.
Por entender que as palavras sentidas que escrevi na referida crónica se encaixam perfeitamente neste tempo passo a transcrever alguns parágrafos
«A finitude da vida humana, que é um processo inevitável que chega a todos inexoravelmente, sempre preocupou o homem. As religiões, as artes, as ciências e a filosofia tentaram sempre responder a esta questão, porém nenhuma delas conseguiu respostas completas e universais. Em termos filosóficos, a finitude humana é algo que para cada um de nós é certo, mas cujo momento de esta ocorrer é bem incerto.
A finitude humana é certa, pois mesmo que traiçoeiramente ela virá; ninguém consegue escapar. Cada um a seu tempo! A temporalidade do ser humano faz-nos sentir que não somos nada nem ninguém, que não sabemos nada, mas na realidade somos melhores do que aquilo que pensamos ser.
Talvez por isso é que neste tempo de modas passageiras, neste mundo em permanente mutação, que tem tantas coisas maravilhosas para nos oferecer, não nos deliciamos a apreciar e a gozar a sua beleza. A vida é um encadeamento de acasos bons e maus, encadeamento sem lógica nem razão, mas é uma dádiva maravilhosa.
Só é pena que a vida seja curta demais para ser vivida, e valiosa demais para se viver pouco. Mesmo assim, vale a pena tentar tudo para se viver uma vida feliz. Só assim é que a vida faz sentido, de coração cheio e sorriso largo. Viva a vida!
O contrário do amor pela vida vem quase sempre encapotado com o dogma da modernidade, só que a Constituição da República, no seu art.º 24 n.º 1 diz que a vida humana é inviolável. Esta disposição foi votada por unanimidade na Assembleia Constituinte e nunca foi alterada nas várias revisões constitucionais posteriores.
A vida é um direito individual, mas também é um direito constitucional reforçado pelo facto que até à data de hoje, nenhum partido político colocou no seu programa eleitoral a revisão desta matéria, muito menos a antecipação do fim de vida, por muito doce ou digna que alguns querem fazer crer. A violação dos direitos humanos inalienáveis das pessoas é um retrocesso civilizacional.
A vida é inviolável e começa todos os dias, não é renunciável. O progresso social é reforçar a cultura da vida; é lutar contra a inviolabilidade da vida; é implementar medidas para aliviar situações extremas de dor e sofrimento».
Foi assim que manifestei há dois anos o meu pensar sobre a vida e hoje apenas quero reafirmar que a vida é uma dádiva maravilhosa. Mas também sinto a necessidade de dizer que o direito à vida é incondicional.