Isabel Madureira

Há dias muito especiais nas nossas vidas, uns que nos marcam pela positiva e outros pela negativa. Todos deixam marcas para toda a vida.
Podia falar de todos os dias marcantes da minha vida, mas hoje vou relembrar um dia especial que marcou profundamente a minha relação com a poesia e, por isso, me marcou de forma muito positiva. Quem me conhece, sabe exatamente ao que me refiro, ou seja, a forma especial que mantenho com a poesia e a maneira como ela entra na minha vida quotidiana.
Corria o ano de 1995, andava eu na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, penso que no último ano do curso e eis que o meu querido Professor Doutor Arnaldo Saraiva, responsável pela cadeira de Literatura Brasileira, me convidou para ir à Livraria Leitura assistir à apresentação do livro “Primeiros Poemas/As Mãos e os Frutos/ Os Amantes sem Dinheiro, de Eugénio de Andrade. A apresentação da obra estaria a cargo do próprio poeta.
Lembro-me perfeitamente daquele dia, cheio de sol e de luminosidade. E eu, a imaginar como seria o poeta e o que lhe queria dizer, quando me fosse apresentado. Naquela altura, pensava que o poeta era um homem inacessível, apenas ao alcance de poucos, os escolhidos. Mas não, os meus pensamentos eram fruto da minha imaginação. O que é necessário é estar rodeado de pessoas que nos motivam.
Cheguei, finalmente. O meu coração palpitava, cheio de entusiasmo e, ao mesmo tempo, receio. Era a primeira vez que estaria no mesmo local com um dos maiores poetas da língua portuguesa.
Assim que me viu entrar, o meu professor chamou- me para me apresentar o poeta. A minha voz ficou embargada. Tudo aquilo que tinha pensado dizer-lhe evaporou-se do meu pensamento. Não sei o que disse, se calhar nada de jeito. Dei-lhe dois beijinhos e eis que vejo à minha frente um homem comum, simpático e muito acessível. Ficou extremamente satisfeito por ver à sua frente imensos alunos da faculdade, ávidos de o conhecer e de ouvir o que tinha para dizer.
Apresentou o livro. Sinceramente, não me lembro do que disse sobre ele. A minha memória auditiva perdeu-se e a memória visual fixou-se na figura do poeta. Lembro-me que só recuperei a memória auditiva, quando ouvi a sua voz, magistral, a recitar o poema “Poema à Mãe”. Ainda hoje me emociono quando leio este poema e há versos que guardo para sempre “Por isso, às vezes, as palavras que te digo/são duras, mãe,/ e o nosso amor é infeliz.”
Comprei o livro e no final lá fui eu pedir um autógrafo, como mandava a praxe. O poeta escreveu “ À Isabel, com a simpatia do Eugénio de Andrade, 1995”. Guardo esse livro religiosamente, porque além do autógrafo, contém alguns dos considero os seus melhores poemas.
Por último, aproveito o momento para agradecer ao Professor Doutor Arnaldo Saraiva pelo momento que proporcionou aos seus alunos e a forma entusiástica de nos ensinar e cativar para a literatura.