Carla Guimarães Cardoso
Quando falamos em HPV e vacina não pensamos em otorrino mas os benefícios da vacinação vão muito mais além.
O Papilomavírus Humano, ou HPV tornou-se conhecido pela sua associação ao cancro do colo do útero e discussão sobre a inclusão da vacina no Plano Nacional de Vacinação e sua extensão aos indivíduos do sexo masculino. Contudo, as suas manifestações podem ter outras localizações. Estão descritas lesões na cavidade oral e nasal, seios perinasais, laringe, árvore traqueobronquica, esófago, uretra, região anogenital e pele. Vamos falar hoje sobre a cavidade oral.
O HPV é um virus de DNA e pertence à família dos Papovaviridae. Apresenta um tropismo especial, ou seja atinge mais frequentemente o tecido epitelial e o tecido mucoso.
Atualmente, a infecção genital pelo HPV é a doença vírica sexualmente transmissível mais frequente na população sexualmente ativa em todo o mundo. Cerca de 6 milhões são diagnosticadas anualmente e 9 a 13% da população mundial encontra-se infectada.
Em 1996, a World Health Association imputou ao HPV 99,7% dos casos de cancro de colo do útero ocorridos em todo o mundo.
Já foram identificados mais de 100 tipos de HPV. Desses, 24 tipos foram associados com lesões orais (HPV-1, 2, 3, 4, 6, 7, 10, 11, 13, 16, 18, 30, 32, 33, 35, 45, 52, 55, 57, 59, 69, 72 e 73).
Tendo por base a associação do HPV com o desenvolvimento de lesões neoplásicas (lesões malignas) os HPVs são agrupados nos tipos de baixo risco (6, 11, 42, 43 e 44) e os de alto riscos (16, 18, 31, 33, 34, 35, 39, 45, 46, 51, 52, 56, 58, 59, 66, 68 e 70).
A transmissão do HPV para a mucosa oral ocorre por auto-inoculação e através da prática de sexo oral. O início precoce da actividade sexual e o número de parceiros sexuais são os facores que mais contribuem para o aumento do risco de infecção.
O HPV está associado a várias lesões benignas da cavidade oral como a verruga vulgar, o papiloma escamoso e mais raramente a hiperplasia epitelial focal. Estas lesões podem surgir em qualquer área da cavidade oral mas são mais frequentes na língua, palato mole e lábios. Nestas lesões benignas os tipo de HPV normalmente implicados são o 2,4,11,13 e 32.
No caso de lesões malignas o papel do HPV ainda está em discussão.
A hipótese mais aceite é que ele não é promotor de lesões malignas por si só, ou seja em mucosa normal, mas que aumenta o risco de malignização de lesões pré-existentes. Os tipo implicados são o 16 e o 18 e em causa estão as lesões leucoplásicas, a leucoplasia verrucosa proliferativa, a eritroplaquia oral e o liquen plano oral.
O tipo de lesão maligna mais frequente na cavidade oral é o carcinoma espinocelular. Nos últimos anos têm individualizado dois grupos de doentes com este diagnóstico. Um grupo de doentes mais velhos (mais de 60 anos) com factores de risco, fumadores e /ou alcoólicos, com tumors atingindo toda a cavidade oral e um outro tipo em doentes mais novos (menos de 40 anos), principalmente do sexo masculino, sem consumo excessivo de álcool ou tabaco mas com comportamentos sexuais de risco (múltiplos parceiros e início precoce da actividade sexual). Nestes últimos a prevalência do HPV ronda os 70%.
De momento não há tratamento farmacológico, com medicamentos, para a infecção por HPV. Quando diagnosticadas as lesões devem ser removidas cirurgicamente. Isto vai permitir confirmar o diagnóstico histologicamente e identificar o tipo de HPV responsável. No caso de HPV de alto grau o doente deve ser vigiado periodicamente.
A forma mais eficaz de tratamento é como sempre a prevenção.
Faz parte do Plano Nacional de Vacinação a vacina anti-HPV contra os genótipos 6, 11, 16, 18, 31, 33, 45, 52 e 58. A vacina tem indicação para a prevenção das lesões displásicas, pré-malignas e malignas anogenitais mas tem demonstrados também elevada eficácia na prevenção do aparecimento de lesões a nível da cavidade oral. O objectivo é atingir uma cobertura de 100% de vacinação antes do início da actividade sexual.