José Castro
Comemora-se amanhã o dia mundial da oração. Para todo o crente, orar, rezar, fazer uma prece, são práticas normais que nunca se deveriam transformar em rituais! Orar ou fazer uma prece, deveria ser tão somente o nosso diálogo interno com a divindade. Infelizmente, a oração está muito longe de ser autêntica, genuína e sincera. Vários motivos concorrem para isso.
Um deles decorre das inúmeras orações existentes que infelizmente apenas são repetidas inúmeras vezes, como se a “quantidade” superasse a “qualidade”.
Outro advém da interpretação que cada um faz de algumas passagens da bíblia, tais como:
“Se me pedirdes algo, em meu nome, eu o farei” (Jo 14:14)
Perante isto, constata-se que inúmeros crentes veem na oração, não um diálogo profundo, silencioso, interno com a sua Consciência e a “Consciência Universal,” mas sim uma forma de “pedinchar” aquilo que desejam, inclusive as coisas mais fúteis, assim como exigir o afastamento de todo mal para si próprios e dos seus! Infelizmente o egoísmo, o orgulho, a vaidade refletem-se na forma como lidamos com “Deus.” Ainda pensamos que a “corrupção” funciona no plano espiritual! Quando na frase anterior se menciona “ em meu nome” a maioria interpreta que basta mencionar a palavra “Jesus” no fima da prece para que o seu pedido seja cumprido! Fazer algo em nome de Jesus, significa sermos fiéis a Jesus. E sermos fiéis a Jesus significa tão somente evoluir (intelectual e espiritualmente) para estarmos na mesma “vibração” d´ Ele. Ele cumprirá, ou melhor, as leis universais “cumprirão” os nossos pedidos, quando soubermos o que pedir, isto é quando estivermos em sintonia com Ele!
Uma outra frase podemos encontrar no novo testamento:
“Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto interno e, tendo fechado a porta, ora ao teu Pai em segredo e o teu Pai, que vê no segredo, te recompensará” (Mt 6:5-6)
Muitos ainda pensam que estamos a falar de um espaço específico próprio para orar!
Contudo, o quarto mais interno é o nosso íntimo. Fechar a porta, significa fechar a porta dos nossos sentidos para as coisas materiais. Pois só no silêncio, na tranquilidade física e mental acedemos ao nosso Eu profundo. Há que calar nossa voz, nossos pensamentos, nossos desejos e nossas emoções. Há que estar simplesmente! Numa atitude de doar e receber. Deus fala-nos no Silêncio profundo, através da nossa Consciência! Isto é muito interessante, pois aqui se verifica que ninguém é favorecido, protegido por Deus, em detrimento de outros. Todo o Ser humano tem acesso (se o desejar) ao seu Eu Profundo, à sua consciência. Quantos ateus poderão ter essa lucidez nas suas consciências que inúmeros crentes ainda não têm?
A prece é um ato de adoração. Orar a Deus é pensarmos n`Ele; é aproximarmos d´Ele; é colocarmo-nos em comunicação com Ele. Através da prece, podemos propor-nos a três coisas: Louvar, Pedir e Agradecer. Parece que entramos em contradição ao falar novamente no “Pedir”. A questão está no que pedimos! O que devemos pedir não é que os acontecimentos “menos bons” mas fundamentais para a nossa evolução, pelos quais temos que passar, nos sejam retirados! Mas sim que tenhamos a sabedoria, a coragem, a fé raciocinada e o amor para ultrapassar todos os acontecimentos da Vida, mesmo aqueles que nos causam sofrimento! Tal significa saber “Aceitar”, e como tal, aprender e evoluir. Se aceitamos Deus, significa que nada ocorre por mero acaso ou capricho! Aliás, nós somos os causadores de todos os nossos contratempos. Saber pedir vai ainda mais além! Não pode ser só para nós, mas também para os outros. Imaginem um homicídio. É natural e espontâneo haver imediata solidariedade com a vítima fazendo uma prece por ela. Mas será que devemos ficar por aqui? Afinal quem está mais desequilibrado, o homicida ou a vítima? Amar incondicionalmente significa que também temos de pedir por aqueles que apresentam pouca evolução espiritual e que desconhecendo o funcionamento das leis universais, ainda recorrem à violência, mentira, corrupção, etc.
Dizem que a “Oração é a respiração da Alma”. Há quanto tempo não respira? Ou, por outras palavras, há quanto tempo anda a respirar mal? Se é daqueles que já tem momentos de meditação, de diálogo com Deus (sem necessidade de orações feitas e apenas recitadas pelos lábios), cuja mensagem é sua, de seu coração, está de parabéns. Mas, também sabemos que uma boa acção é a melhor das preces, pois os atos valem mais que as palavras. Assim, como seres perfectíveis, podemos dar mais um passo em frente, no entendimento da oração! Afinal somos seres espirituais, vivendo uma experiência terrena, mas que estamos sempre em contacto via “wifi” com a divindade! Se assim for, Viver e agir entusiasmado (que significa inspirado por Deus) é por si só (se feito de uma forma consciente e não em piloto automático) um ato de Oração! Daí que Saber Viver é sublime!