Mateus Oliveira
Numa altura em que as preocupações e reflexões em torno das alterações climáticas – e consequente impacto para a vida no planeta – estão, mais do que nunca, na ordem do dia, lembrei-me de um conversa que, há uns bons 15 anos, tive com o Professor Jacinto Rodrigues.
Dizia-me ele que, na arquitectura como na vida, as resposta estão todas na natureza e que, seguramente, o futuro exigir-nos-ia a nós – futuros arquitectos – que assumíssemos a natureza como verdadeiro paradigma na criação arquitectónica. Até conceptualmente. Tenho, nos últimos anos, voltado a ler muito do que ele escreve(u) e procuro articular relações com a investigação que, desde 2012, vou fazendo.
No primeiro artigo que escrevi para a BIRD, reflecti sobre a forma como o culto da imagem tem roubado essência e significado às criações arquitectónicas e hoje, ainda e sempre nessa mesma linha de reflexão, permito-me citar o referido Professor Jacinto Rodrigues para relacionar estas duas questões: “O formalismo entrou no ensino da arquitectura e dificultou a entrada da problemática ecológica. O pensamento tecnocrático gerou um antagonismo entre “boa” arquitectura e ecologia. (…) forjando a ilusão de que a arquitectura é sofisticação e oposição à natureza!”[i].
Ao olharmos para as materializações arquitectónicas, sobretudo públicas ou de utilização pública (pela sua dimensão e pela responsabilidade que lhe está inerente), dos últimos e – seguramente – dos próximos anos, verificámos que na sua generalidade se antagonizam com premissas fundamentais do que deve ser a arquitectura, nomeadamente a relação com o espaço envolvente (com todos os aspectos intrínsecos e consequentes) e com a história/identidade/memória do lugar.
Os edifícios surgem volumosos, impositivos, cénicos… como imposições mais ou menos egocêntricas de quem os projecta. E, no entanto, autistas na sua forma de interacção com a rua, a praça, o lugar, a cidade e, sobretudo, as pessoas. Se há, indubitavelmente, em mim – enquanto arquitecto – medo que me assola, é o de cair neste culto do “instagram” em que a imagem prevalece sobre a essência. E a essência está e estará, sempre, na natureza. O necessário paradigma do século XXI. Na arquitectura e no resto.
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