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Saúde e Vida

CUIDAR DA SUA SAÚDE MENTAL EM TEMPO DE COVID-19

Diogo Guerreiro (psiquiatra)

Vivemos tempos de incerteza e receio. Um novo vírus, medidas de precaução, afastamento social, quarentenas, inundação de notícias (falsas e verdadeiras), fechos de locais de ensino, perturbação das nossas rotinas. Pandemia… e também pandemónio (embora seja possível tomar medidas para prevenir a difusão de ambos).

Não será de estranhar que a nossa saúde mental se venha a ressentir, pois os impactos do coronavírus existem bem para lá das situações de saúde que ele provoca. No entanto, mesmo em alturas de crise, é possível (e essencial) cuidarmos da nossa saúde mental!

informação é uma das mais poderosas armas que temos à nossa disposição. Tentar gerir as nossas ansiedades e medos (por mais válidos que sejam) é também fundamental, por nós, mas também pelas pessoas que nos rodeiam (especialmente as crianças).

Como tomar conta da nossa saúde mental em tempo de pandemia?

Surtos de doenças infeciosas, como o atual coronavírus, podem ser assustadores e podem afetar nossa saúde mental. Embora seja importante manter-se informado e tomar todas as medidas de proteção para impedir o contágio pelo vírus, também há muitas coisas que podemos fazer para manter e tomar conta do nosso bem-estar mental (e físico) durante estes períodos.

Ficam aqui algumas dicas, que espero que ajudem, a cuidar da sua saúde mental neste momento em que se fala tanto de ameaças à nossa saúde física:

  1. Limite a exposição aos media (TV, jornais, redes sociais) e procure fontes de informação confiáveis: o desconhecido causa muitos medos, rumores e especulações. Existe muita informação, muito alarme e muitas notícias menos corretas (fake news). É natural desejarmos saber o máximo sobre qualquer ameaça para nós ou para os nossos entes queridos, mas estamos perante um agente desconhecido, que ainda não percebemos na totalidade e, assim sendo, nunca nos iremos sentir satisfeitos com a quantidade de informação que possuímos. Isto alimenta muito o nosso medo e ansiedade. É importante selecionar uma ou duas fontes de informação, confiáveis, sobre este tema (sugiro o site da OMS e o da DGS) e restringirmo-nos a estes.
  2. Siga, de forma decidida, as recomendações das autoridades de saúde: se há um momento em que devemos seguir recomendações é este! Ninguém é perfeito, pode haver falhas, mas nada pior do que cada pessoa decidir de forma individual o que fazer para combater esta pandemia. Coordenação é essencial!
  3. Tome conta de si mesmo: o autocuidado, durante esta fase, baseia-se em focar-se nas coisas que pode controlar (como medidas de higiene e de manutenção da saúde), em vez daquelas que não pode (parar o vírus). Sempre que possível, mantenha sua rotina diária e atividades normais: comer refeições saudáveis, dormir o suficiente e fazer as coisas que gosta. Considere criar uma rotina diária que priorize seu bem-estar e saúde mental positiva. Atividades, como ler, meditar, cozinhar uma refeição diferente ou fazer exercício (evite os ginásios, pode fazê-lo em casa), podem ajudá-lo a relaxar e terão um impacto positivo em seus pensamentos e sentimentos. Pode também aproveitar para recuperar algum tempo de sono, que deve a si mesmo há muito tempo (durma mais, faça umas sestas).
  4. Mantenha-se em contato com outras pessoas e apoie as pessoas ao seu redor: apesar de estarmos em período de evitar ao máximo sair de casa e reduzir os contatos físicos com outras pessoas, é possível utilizar as novas tecnologias para falar com amigos e familiares, estar presente mesmo à distância. Discutir as suas preocupações e sentimentos pode ajudá-lo a encontrar maneiras de lidar com os desafios. Receber apoio e cuidados de outras pessoas pode trazer uma sensação de conforto e estabilidade. Ajudar outras pessoas num momento de necessidade, falar com alguém que possa estar a sentir-se sozinho ou preocupado pode beneficiar tanto a pessoa que recebe apoio, quanto quem está a ajudar.
  5. Reconheça seus sentimentos: é normal sentir-se preocupado, angustiado, “stressado” ou chateado. Na realidade, na situação atual, é perfeitamente normal sentir toda o tipo de reações emocionais, aceite-o. Reserve um tempo para perceber e para expressar o que está a sentir: faça-o através da escrita ou de outra forma de expressão artística, converse com amigos e família, pratique meditação.
  6. Fale com seus filhos sobre o que se está a passar: de forma simples, adaptada à idade. Responda às perguntas e compartilhe factos sobre a COVID-19 de uma maneira que as crianças possam entender. Responda às reações do seu filho de maneira empática, ouça as suas preocupações e ofereça carinho, atenção e apoio extra. Tranquilize os seus filhos, dizendo-lhes que estão seguros e que todos estão a dar o seu melhor para superar esta crise. Diga-lhes que está tudo bem se eles se sentirem chateados, zangados ou ansiosos. Partilhe com eles como é que lida com a sua própria ansiedade, mesmo que lhes diga que não sabe tudo e que para si também está a ser difícil.
  7. Não entre em modo de “histeria generalizada”: não vá a correr aos supermercados e farmácias comprar tudo o que vir à frente, e arriscar nas multidões ser efetivamente contaminado e por em perigo a sua família. Não partilhe noticias menos fidedignas nas suas redes sociais. Não vá a correr para hospitais e centros de saúde com o primeiro dos sintomas, confie nos médicos e nas autoridades de saúde; ligue para o SNS 24 – 808 24 24 24.
  8. Não entre em modo de “negação”: isto não é uma “gripe qualquer”, trata-se de algo muito sério. Deve mesmo cumprir as medidas de segurança e de quarentena. Não é para ir para a praia, para restaurantes, para combinar encontros com amigos dos filhos. Está a colocar-se a si, à sua família e a toda a comunidade em perigo!
  9. Se tem alguma doença psiquiátrica de base é importante manter o tratamento: tenha medicação suficiente para pelo menos um mês, não interrompa, mas também não aumente sem falar com o seu médico. Existem possibilidades de consulta à distância com os médicos e com os psicólogos. Não interrompa o tratamento, especialmente nesta altura de maior stress psicológico.
  10. Em isolamento ou quarentena, planifique rotinas: é muito difícil vermo-nos restringidos da liberdade de irmos ter com um amigo, ou tomar um café na pastelaria da esquina. Mas o que tem que ser tem que ser. Poderá ajudar ver esta fase como um período de tempo diferente na sua vida, e não necessariamente mau (mesmo que isto não seja uma escolha sua). Será uma altura com um ritmo de vida diferente, uma hipótese estar em contato com os outros de maneiras diferentes da habitual (telefone, email, redes sociais). Crie uma rotina diária em que a prioridade é cuidar de si mesmo. Tente ler mais ou assistir a filmes em casa, ter uma prática de exercícios, experimentar novas técnicas de relaxamento ou encontrar novos conhecimentos na internet. Tente descansar e ver isso como uma experiência nova e incomum, que pode ter seus benefícios.
  11. Não estigmatize pessoas que tenham sido contagiados ou que estejam em quarenta: trata-se de uma infeção viral, com o potencial de infectar qualquer um de nós. Já é assustador ter a doença e ter noção que poderá ter contagiado outros, não é preciso fazer a pessoa sentir-se pior. Vamos focar-nos em seguir as recomendações das autoridades e “diminuir a curva”.

Tome conta de si e ajude a proteger os outros. Seja solidário, seja paciente. Juntos e com “a cabeça no lugar” poderemos responder, da melhor maneira possível, a este grande desafio.

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