Ricardo Jorge Freitas
Os portugueses podem comparar números com o caso espanhol, e é fácil de o fazer! Tenham em conta 2 factores:
1) Espanha leva 1 semana de avanço na quarentena em relação a Portugal.
2) Espanha tem 5 vezes mais população que Portugal, o que significa que dividindo por 5 os números de Espanha, podem sempre comparar o que pode passar com Portugal em 1 semana futura. Exemplo: hoje em Espanha houve 4500 novos infectados. Isto significa que Portugal pode esperar quase 1000 novos infectados num só dia daqui a 1 semana.
Se daqui a uma semana, Portugal tiver menos de 1000 infectados num único dia, significa que estamos a fazer melhor que a Espanha. Aqui em Espanha levamos uma semana de avanço e temos 33.000 infectados, então significa que Portugal pode esperar ter 6.600 infectados e 432 mortes até domingo. Fica a referência. Se ficarmos abaixo desse número, estamos a fazer as coisas melhor.
Sabemos agora que este vírus é mais contagioso do que se pensava. Sabemos também que os mais jovens não são o factor principal de risco, mas é verdade que são estes mesmos os principais contagiadores. Os seus avós estão a morrer por causa dos netos e filhos que levam o vírus para dentro de casa, ainda que de forma inconsciente.
A minha mensagem é apenas esta: Fiquem em casa. Aqui em Espanha, os Hospitais já estão a decidir quem morre e quem vive. E a decisão é de que morram os mais velhos para poupar os mais novos. Madrid tem agora o dobro dos pacientes que pode aguentar em Hospitais e, pior, já nem sequer tem logística para enterrar os mortos. Os cadáveres vão para o “Palacio de Hielo” (Palácio do gelo) que é um pavilhão com pista de gelo. Aí colocam os caixões com os cadáveres em fila de espera porque não conseguem enterrar/cremar tanta gente. Não se esqueçam que continua a morrer muita gente por morte natural, por acidente, por doenças, etc. O Corona Virus veio apenas aumentar o número de mortes “normais”.
E os hospitais não estavam preparados para uma Pandemia destas. Estes cadáveres serão cremados sem direito a cerimónia fúnebre e/ou presença de familiares. As cinzas serão entregues 15 dias depois da cremação aos seus familiares.
Perante isto, e estes números, ontem vi fotos de pessoas a desfrutar o seu passeio domingueiro na marginal de Vila do Conde, Matosinhos e até no Bom-Jesus. O meu sentimento foi de raiva profunda. Não por eles, pobres ignorantes, mas porque podem vir a infectar outras pessoas inocentes e, até matar, os seus entes queridos mais velhos. Tudo por causa de um passeio. Há gente que não as mede. Será ignorância. Tem que ser estupidez.
Eu não sou médico nem pretendo ser, mas sou economista. Posso não perceber de doenças mas percebo de estatísticas e de números. E os números não são nada animadores. Há fórmula para reverter estes números? Sim. Basta com ficar em casa e evitar contagiar os outros inocentes.
Quanto à economia, não se preocupem! Ela vai quebrar a sério de todas as formas. Vamos de cabeça a uma crise económica profunda.
Do lado financeiro, a Europa e o Banco Central Europeu têm liquidez suficiente para recuperar a economia e vão fazê-lo. Se há coisa que o Banco Central Europeu tem, é excedente financeiro. Felizmente.
3 medidas concretas já tomadas:
1) O BCE anunciou há uma semana, 200 mil milhões de euros para comprar dívida pública aos países que necessitassem para re-financiar a sua dívida.
2) O BCE anunciou esta semana, um novo pacote de 750 mil milhões de euros para comprar dívida ignorando os limites de compra que o mesmo podia fazer, ou seja, por outras palavras, compra o que for preciso para que nenhum país passe por dificuldades. (até aqui, o BCE apenas podia comprar 33% da dívida soberana).
3) Bruxelas anunciou esta semana que os países da UE podem gastar dinheiro público livremente e ignorar o limite (3%) do défice público estipulado no tratado de Maastricht. O mais importante é manter a economia viva e impedir que as pessoas percam os seus empregos e rendimentos.
Temos apenas que mudar de paradigma e “pôr as rotativas a imprimir dinheiro” como um amigo meu dentro do BCE me comentou esta semana. E tem razão. A Europa e os Estados Unidos não vão colapsar com uma crise destas porque há riqueza suficiente e podem imprimir o dinheiro que lhes apetece. Mas os países pobres de África, Asia e America Latina, podem (e vão) voltar a sofrer bastante.
De todas as formas, esta é uma situação de emergência. Esta é a história da formiga que poupou dinheiro e que em tempos de crise severa, se permite gastar para repôr os danos. A Europa não é a cigarra da história. Mas Portugal é uma cigarra que mora no meio das formigas e vai acabar por usufruir da poupança dos outros. Não se esqueçam jamais desta ajuda europeia. Se não fosse a Europa, Portugal ia directo para a bancarrota.
Como devem compreender, é-me impossível abarcar todos os temas relacionados porque é impossível dar uma resposta a tudo neste momento, até porque as variáveis mudam de dia para dia e são muitas a ter em consideração. Por muito que escreva, corro um risco enorme de estar a dizer uma inverdade em menos de 24h tal é quantidade de informação que nos chega a cada instante. A única coisa que está clara e que funciona é o confinamento em casa. É a primeira medida (e única) a ser tomada por todos.
Terminando… e não confundir a velocidade com o andamento: Não iremos ter uma crise financeira, vamos ter uma crise económica. O dinheiro não é grátis mas pode ser fabricado quando há riqueza. Essa riqueza existe porque a Europa tem conseguido ter uma economia forte e com políticas financeiras de austeridade para poder “abrir a torneira” em tempos difíceis, quando são efectivamente necessárias, como é o caso. Quem criticou a Austeridade, deveria agora colocar pimenta na língua.
Todos pedem aos médicos que lhes digam a verdade, mas ninguém pede aos economistas que lhes digam a verdade, só nos pedem resultados.
Nesta altura, há que dizer a verdade porque ninguém sabe o resultado. Mas sei que só há que arregaçar as mangas para trabalhar para voltar ao nível que estávamos.
De momento, acho que o mais importante é ficar em casa! Ficar em casa (insisto uma e outra vez) pode representar uma poupança de milhões para o governo (Saúde) e milhares de vidas de gente que queremos e estimamos.
Quanto às consequências, já iremos ter tempo de analizar e falar. De momento, urge salvar vidas e preservar a dos outros.