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Cidadania e Sociedade

SEMANA SANTA EM CASA SAGRADA

Paulo Duarte

A primeira vez que escrevi para a BIRD Magazine referi-me ao tempo novo que estamos a viver. Se em tempos achava que cada dia é uma novidade dentro da experiência do quotidiano, agora, mesmo na tentativa de rotinas, o tempo novo traz sempre perspectivas de mudança a acontecer. Pela primeira vez na história da Igreja, vamos celebrar em casa a Semana Maior da fé cristã. A Igreja Universal acolhida na simplicidade da Igreja doméstica.

A casa é também espaço sagrado. Simbolicamente, saímos da casa espaço físico para a casa-coração, casa-corpo que cada pessoa é. Talvez por isso, o desafio seja maior. A Semana Santa vivida no templo que cada um de nos é. As Igrejas estão fechadas às celebrações públicas, contudo, cada coração pode estar aberto a celebrar a força da páscoa, a travessia das trevas para a luz, da morte para a Vida.

Independentemente do modo como cremos, todos já fomos atravessados por morte, seja de alguém, seja de qualquer situação que nos tenha obrigado a fazer uma travessia interior de luto. Essa travessia, ao levar-nos a tempos novo, deve ajudar a que possamos perceber a imensa complexidade do nosso sentir. Nos dois relatos que se ouvem em Domingo de Ramos, temos a tensão de Jesus a ser, ora a ser acolhido como rei, ora a ser julgado como blasfemo. Em que ficamos? Se entrarmos em maior profundidade no texto da Paixão, ainda é mais confuso com os discípulos ora a dizer sim, ora a negar, como Pedro o fez, ora a denunciá-lo como Judas por 30 moedas de prata. No entanto, não é indiferente a postura de autenticidade com que Jesus atravessa o seu tempo novo que mudará o curso da história da humanidade. Ele não busca alvíssaras. Ele mostra-nos como podemos amar como Ele amou.

O amor é um desafio. Amarmo-nos a nos próprios é também reconhecer que tanto pode haver incoerências por medo, vergonha, tal como aconteceu a Pedro, como de traição, sendo parte de Judas, mas também a força da luz e do amor, como Jesus. No coração humano há tal complexidade de histórias, que importa escutá-las com cuidado e atenção, para saber ordená-las e pô-las ao serviço de amar o próximo. Também por aqui percebemos as palavras do Papa Francisco, na bênção extraordinária, quando diz que “ninguém se salva sozinho”. É a experiência do amor, nessa travessia de crise, em que todos devemos buscar o melhor de nós para darmos passos de colaboração de humanizar os tempos novos.

A Semana Santa vai ser vivida em casa. Será estranho, mas também será um desafio de acolher de forma renovada este acontecimento transformador, a partir da experiência vital, única e sagrada de cada pessoa, permitindo que a fé possa ser cada vez mais vivida em gestos de amor ao próximo.

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