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Saúde e Vida

PELE SENSÍVEL OU REATIVA: DEFINIÇÃO E CUIDADOS

Paulo Morais

Médico dermatologista no Trofa Saúde Hospital em Alfena (Valongo) e Braga Sul (Braga), Clínica Fisioskin (Porto), Hospital da Luz Clínica de Amarante (Amarante), Ponte Saúde (Amarante), Excelis Saúde (Lamego).

 

Ter a pele sensível é uma queixa frequente na população geral, afetando até metade da população em diferentes magnitudes. É culturalmente elegante dizer que se tem pele sensível… Mas ter pele sensível como a princesa do conto “A princesa e a ervilha” de Hans Christian Andersen, não é um privilégio, podendo afetar negativamente a qualidade de vida de quem padece deste problema.

É mais frequente em indivíduos com predisposição atópica e em mulheres, embora a ocorrência nos homens esteja a aumentar. Mais de 75% das pessoas que referem o problema evitam o uso de algum produto devido seu efeito sensorial desagradável prévio.

A falta de sinais dermatológicos, a dificuldade – pela subjetividade – em avaliar e mensurar as queixas e a falta de bibliografia acessível prejudicam a investigação sobre o tema.

DEFINIÇÃO

O termo “pele sensível” sempre foi mais um autodiagnóstico do que algo de objetivável ou comprovável pelo dermatologista na avaliação da pele. Em 2017, o Grupo de Interesse Especial em Pele Sensível, integrante do Fórum Internacional para o Estudo do Prurido, definiu a “pele sensível” como uma síndrome caraterizada pela ocorrência de sensações desagradáveis (sensação de picadas, ardor, dor, prurido e formigueiro) causada por estímulos que normalmente não deveriam provocar tais sensações e não explicáveis por outras doenças da pele (rosácea, acne, eczema, etc.). A pele pode aparentar ser normal ou acompanhar-se de eritema, podendo o problema afetar qualquer local do corpo, especialmente o rosto.

Estes autores referem, ainda, que a utilização do termo “pele reativa” poderá ser mais apropriado do que falar-se em “pele sensível”.

FATORES DESENCADEANTES

Os fatores desencadeantes podem ser físicos (radiação ultravioleta, calor, frio e vento), produtos químicos (cosméticos, sabões, água e poluentes), alguns tecidos e, ocasionalmente, a menstruação e fatores psicológicos (stress). Possivelmente, os cosméticos serão o fator mais importante.

CAUSAS

Embora ainda não se conheçam, na totalidade, as causas ou a solução ideal para a pele sensível, alguns estudos relativos à fisiopatologia da doença têm levado a diferentes hipóteses, nenhuma delas totalmente confirmada até ao momento. As mais aceites são:

  • Hipótese epidérmica: Pensa-se que a barreira epidérmica se encontra defeituosa, já que foram observadas alterações na sua composição de lipídios neutros, esfingolipídios e ceramidas. Assim, observa-se uma maior perda transepidérmica de água. Além disso, parece que em pessoas com pele sensível as terminações nervosas epidérmicas se encontram menos protegidas do que o normal.
  • Hipótese bioquímica: Foi descrito um aumento da expressão dos canais TRPV1, localizados na superfície das células epidérmicas e nas terminações nervosas. Estes canais são ativados com estímulos como o frio ou o calor e estão relacionados com a deteção e regulação da temperatura corporal, com a sensação de calor escaldante e dor (nocicepção), inflamação neurogénica e prurido.
  • Hipótese neurogénica: Pode observar-se um menor número de fibras nervosas intraepidérmicas e uma hiperreatividade do sistema nervoso cutâneo associada, em particular, à ativação de proteínas sensoriais presentes nos queratinócitos e nas terminações nervosas e maior libertação de mediadores inflamatórios, o que justifica os sintomas de pessoas com pele reativa.

PELE SENSÍVEL/REATIVA, IRRITADA E SENSIBILIZADA: QUAL A DIFERENÇA?

Um doente com pele irritada sente prurido, ardor ou queimor, devido ao efeito de um elemento irritante, como frio, sabão agressivo ou fricção. Há uma causa para os sintomas desconfortáveis, por isso não podemos interpretá-la como pele sensível.

No caso da pele sensibilizada, há referência a sensação de picadas, com aparecimento de dermatite, pelo contato com uma substância à qual o doente é alérgico (conservantes, perfumes, metais,…). Mais uma vez, há uma causa justificativa para sensação de desconforto cutâneo.

CUIDADOS E TRATAMENTO COM A PELE SENSÍVEL/REATIVA

Apesar dos avanços científicos referentes às possíveis causas da pele sensível, não existe consenso relativo ao tratamento nem terapêutica específica. No entanto, é essencial o reconhecimento e evicção dos fatores indutores/agravantes.

HIGIENE:

  • Evite sabonetes e surfactantes agressivos.
  • Evite esfoliação intensa ou escovas mecânicas.
  • Utilize de preferência água micelar, leite ou loção de limpeza suave.
  • Seque a pele com uma toalha macia, dando pequenas pancadas, sem esfregar.

COSMÉTICOS:

  • Use gamas específicas para pele sensível.
  • Utilize protetor solar, dando preferência aos filtros físicos/minerais/inorgânicos, em vez de filtros químicos/orgânicos.
  • É aconselhável ser cauteloso na utilização de produtos antienvelhecimento. Isso não significa que eles não possam ser usados, mas o aconselhamento dermatológico prévio é essencial, pois estes produtos podem irritar a pele.

TRATAMENTO:

Alguns estudos demonstraram a eficácia de algumas moléculas que bloqueiam os canais TRPV1, como o trans-4-t-butilciclohexanol, na melhoria da pele sensível.

Um creme contendo lisado de Bifidobacterium longum mostrou uma diminuição significativa na sensibilidade da pele, além de aumentar a resistência da pele contra agressões físicas e químicas em comparação com o grupo de voluntários que aplicou o creme controlo.

Existem vários produtos no mercado contendo lisados bacterianos de Lactococcus spp., Bifidobacterium spp. e outras bactérias “boas”, extrato de aveia prebiótica e até água termal pré-biótica com Aqua posae filiformis (uma versão patenteada da bactéria aquática Vitreoscilla filiformis), que têm como missão equilibrar o microbioma cutâneo, reduzir a inflamação, fortalecer a barreira da pele e hidratar. Tais dermocosméticos podem ter interesse em doenças inflamatórias cutâneas, como o eczema, a rosácea ou a acne, além de poderem ser benéficos na pele sensível/reativa/intolerante da face e do restante corpo.

Além disso, foram desenvolvidos neurocosméticos com ingredientes patenteados (ex.: Neutrazen™, Toléridine™, complexo Neurocontrol™, Parcerine®, etc.) que visam prevenir a estimulação das fibras nervosas e inibir a produção de moléculas pró-inflamatórias e a inflamação neurogénica.

EM RESUMO…

Ainda faltam muitas pistas sobre as causas da pele sensível. Os desafios futuros incluem a melhor compreensão da etiologia da entidade e da relação entre os sintomas subjetivos e as manifestações físicas, a criação de testes e critérios de diagnóstico e a disponibilidade de opções terapêuticas eficazes. É importante diferenciar a pele sensível de outras doenças cutâneas com tratamento específico. Embora o tratamento da pele sensível seja complexo, temos algumas diretrizes importantes para a sua abordagem do ponto de vista cosmético.

 

 

 

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