Isabel Pinto da Costa
Durante toda a minha prática clínica disse sempre aos meus doentes que deveriam valorizar a sua casa, o espaço onde viviam, que esse deveria ser o seu “porto seguro” e que tudo o que colocassem lá dentro deveria ter um significado para eles, como se fosse um abrigo subterrâneo, pois se algum dia ficassem lá fechados estariam seguros do mundo lá fora.
Eles sorriam e achavam que eu exagerava, que era só para eu os ajudar a esquecer os medos que eles tinham da sociedade em geral e de algumas pessoas que nela habitam. Agora puderam fazer essa experiência! Finalmente tiveram a experiência do abrigo subterrâneo por causa do COVID-19 e puderam ver que funciona como um porto seguro, longe do perigo. Contudo, para isso, também temos que ter lá dentro as coisas certas: os objetos, os filhos, as pessoas significativas, senão é tão perigoso como andarmos expostos ao vírus e a qualquer momento pode “rebentar a bomba” dentro do abrigo subterrâneo, ou seja, dentro da nossa casa.
Temos que ficar em casa nesta Páscoa, mas de forma estável ao nível emocional. Sentimos medos e ansiedade provocados por todas as notícias que diariamente os meios de comunicação social nos transmitem. Por isso, se querem reduzir a sua ansiedade cognitiva têm que se abstrair dos noticiários e dos números de mortos sem descurar as medidas preventivas e concentrar-se em atividades de autoconhecimento e em atividade com os seus familiares que, neste momento, vivem consigo em sua casa, em especial com os filhos que agora se encontram de férias.
Faça um exercício: O que eu era antes da pandemia? Quais as minhas verdadeiras preocupações? O que eu sou agora? E o que pretendo ser daqui para sempre?
Existem coisas que eu realmente quero mudar? Existem coisas com as quais eu me preocupava demasiado e perdia muito tempo com elas? O que mudou em mim?
Comecei a dar valor a pessoas que até aqui nem reparava nelas!?
É tempo de reflexão!
Boa Páscoa para todos, e não saiam do vosso abrigo subterrâneo, ou seja, de casa.