Raquel Evangelina
Para quem, como eu, é da geração pós 25 de abril a Liberdade sempre foi uma coisa garantida. Talvez por isso nunca lhe tenhamos prestado grande atenção.
Vamos onde queremos, sem que nos condicionem o acesso. Dizemos o que pensamos e sentimos, sem medo de represálias. E apenas ficamos sem liberdade onde começa a liberdade do outro, ou seja, somos livres mas não podemos usar essa liberdade para prejudicar alguém.
Não sabemos o que é ser torturado pela PIDE por sermos contra o governo. Não sabemos o que é ser sujeito a trabalho escravo por sermos de outra cor. Não sabemos o que é não ter direito a voto por sermos mulheres.
Temos a Liberdade garantida. E talvez por a termos não é valorizada. Nunca valorizamos o que damos por garantido, não é?
Isto aconteceu até ao dia em que um vírus veio parar o mundo.
Nesse dia começou a valorizar-se a Liberdade. Deixamos de poder estar com quem amamos. Somos livres de ir à rua, mas de forma condicionada. Ficámos presos em casa, tal como os pássaros na gaiola, e apenas sonhamos com o dia em que tudo volte ao normal. Em que sejam permitidos, outra vez, os abraços, as jantaradas, os passeios, as viagens, o ser livre. Em que não haja restrições de pessoas e de afeto na despedida dos nossos entes queridos que partem.
Quando esse dia chegar que tenhamos em mente que nada é garantido.
Nem mesmo a Liberdade.