Isabel Madureira
Face aos desafios que a pandemia da Covid-19 está a colocar, nomeadamente, o fecho das escolas com vista à promoção do isolamento social, milhares de alunos ficaram privados do ensino presencial, ou seja, sem a presença dos seus colegas e professores.
Para colmatar as dificuldades inerentes ao cumprimento dos programas escolares de cada disciplina e de cada nível de ensino e consequentemente as avaliações relativas ao terceiro período, os professores rapidamente encontraram uma forma de adaptação, mantendo-se ativos e mantendo ativos os seus alunos. E, à distância de um click, “arregaçaram as mangas” e “num abrir e fechar de olhos” estavam todos ligados através das várias plataformas disponibilizadas.
E assim, num ápice, alunos, encarregados de educação e professores começaram a usar as ditas plataformas, como se sempre as tivessem usado.
Em catadupa, vieram os trabalhos, as fichas, os testes, as aulas online, os vídeos, as histórias, os desenhos, as dobragens, e por aí além. Tudo com os respetivos horários e datas de conclusão.
A adaptação foi mais rápida do que aquilo que se esperava. De repente, crianças com 9 anos, como é o caso do meu filho, começaram a usar a Classrrom com uma classe, que até parece que sempre a usaram, adaptadíssimos e muito motivados.
Esta forma de ensinar tem sido uma mais-valia, nestes dias de isolamento, pois é uma boa forma de manter os alunos ocupados e sempre em aprendizagem. Sei que nada substitui o ensino presencial, que, apesar de tudo, é mais humano, mais intimista. O professor será sempre uma referência importante na vida dos alunos e um computador jamais o substitui.
Ora, se o ensino a distância se apresenta como uma mais-valia, na impossibilidade de haver aulas presenciais, ele é também sinónimo de graves desiquilíbrios. Os princípios da igualdade, equidade e inclusão são severamente violados com este tipo de ensino.
Em primeiro lugar, gostaria de dizer que este tipo de ensino implica elevados custos para as famílias e há logo uma desvantagem imensa para as famílias socialmente desfavorecidas e para aquelas que tem 3 a 5 filhos em idades escolares. Haverá poucas famílias que têm um computador para cada filho. Há famílias numerosas que possuem apenas um computador, logo será impossível o cumprimento dos horários, pois só pode estar um filho de cada vez.
Portugal continua a ser um país onde menos cidadãos usam a internet diariamente. Isto significa que há imensas famílias sem Internet e muitos cidadãos que não a sabem usar. Estima-se que cerca de cinquenta mil alunos não tem internet em casa. Esta ausência atira estes alunos para a exclusão social e o acesso à aprendizagem fica severamente
comprometido. Continua a prevalecer “a lei do mais forte”, que neste caso significa a lei do socialmente mais favorecido e mais experiente.
Além disto, valerá a pena também falar dos alunos que não têm qualquer tipo de ajuda dos seus pais e têm de se desenrascar sozinhos o que, em caso de dificuldades, poderá levar à desmotivação e ao desencorajamento.
Por último, gostaria ainda de falar dos alunos com medidas de suporte à aprendizagem e à inclusão, particularmente daqueles para quem foram mobilizadas medidas seletivas e adicionais. Se a presença dos professores é importante para todos os alunos, para estes é muito mais importante. Estes alunos apresentam dificuldades permanentes e
persistentes e é com a presença dos professores, em particular os da educação especial, que eles conseguem fazer aprendizagens e evoluir no seu percurso de ensino. Pela experiência que tenho na educação especial, o mais certo é estes alunos regredirem nas suas aprendizagens, se não for encontrada uma solução rápida e eficaz.
Agora, as perguntas que se impõem são as seguintes: será este tipo de ensino benéfico para todos os alunos? Este tipo de ensino funciona e tem o mesmo impacto que o ensino presencial?
Por enquanto, não existem estudos sobre os impactos nos vários ciclos de ensino. Ao que parece, os estudos, sobretudo das universidades, dizem-nos que os melhores alunos serão sempre os mais bem-sucedidos.
Se esta tendência for transversal aos outros ciclos de ensino, confirma-se que os alunos com dificuldades de aprendizagem, continuarão a manifestá-las no ensino a distância.
Relativamente à segunda questão, na minha opinião, nada substitui o ensino presencial, é o mais justo e equilibrado. Em sala de aula, com a presença do professor, todos os alunos se encontram no mesmo patamar, não há ajuda dos pais, dos explicadores, dos colegas. É na presença do professor que os alunos têm oportunidade de esclarecer as suas dúvidas, mostrar o seu verdadeiro trabalho e evidenciar as suas capacidades. Só assim poderemos ter uma avaliação justa.